O Fórum Municipal de Mulheres Negras e o Instituto de Desenvolvimento da Cultura Afro no Norte e Noroeste Fluminense (Idannf) realizam neste sábado (25), no Tênis Clube de Campos, a primeira “Feijoada das Pretas”, que tem como objetivo, exaltar a força da mulher negra e dar visibilidade à luta desses movimentos de mulheres, institucionalizados ou não, na garantia de direitos básicos dos negros e dos povos quilombolas.
A primeira Feijoada das Pretas traz, além a feijoada, um prato típico negro, feito com a sobra do porco, muito samba, participação de cantores e cantoras de Campos e do Rio de Janeiro, que se unem em comemoração e apoio às mulheres negras de Campos. O evento traz ainda atores e atrizes que atuam no Rio e muito diálogo entre essas mulheres que estão em diversas frentes, na luta pela reafirmação da história e cultura negra em Campos.
Segundo uma das organizadoras do evento, a presidente do Idannf e representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (Conaq) na região, Lucimara Muniz, a Feijoada das Pretas tem o objetivo de reunir essas lideranças femininas e incentivar outras mulheres.
— Essa feijoada vai reunir as mulheres e depois virão os debates sobre a nossa valorização e meios de agirmos contra o processo histórico de invisibilização que sofremos. É para mostrar que mulher preta é um processo de transformação constante. Ela pode ser advogada, ou doméstica, ela pode estar onde quiser. Esse encontro é uma corrente com feijoada e roda de conversa e de samba, um posicionamento político — diz Lucimara que lembra ainda que, atualmente, mais de 80% da população campista é negra.
Rosemara de Souza, que é do Quilombo de Conceição do Imbé, lembra que o evento também é uma prévia ao Dia Municipal do Quilombola, comemorado em 11 de junho. “Não podemos esquecer a data que se aproxima, porque é um dia muito importante, quando nos lembramos que mesmo com toda a história negra de Campos, ainda tem gente que não sabe que temos comunidades quilombolas no nosso município. Essa luta é uma luta constante por sobrevivência”, diz.
Luta que vem de longe - Maria José Serafim, a Zezé, presidente do Fórum Municipal de Mulheres Negra, e também organizadora do evento, lembra que o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) foi criado em 2004 e que foi necessário institucionalizar os grupos de mulheres negras para buscarem espaço na sociedade e no conselho. Já existia o Fórum Estadual de Mulheres Negras no Rio de Janeiro e ele foi a referência para o que foi fundado pela Zezé, na planície.
— Nós somos mulheres negras, vivemos essa identidade e nós fomos buscar as vagas das mulheres negras — diz Zezé que, em 2006 foi a primeira mulher negra de Campos a assumir a presidência do Comdim.
Dentro da mesma luta, mais tarde, Lucimara Muniz avançou com na busca de visibilização dos povos quilombolas de Campos, através do Instituto de Desenvolvimento Afro do Norte e Noroeste Fluminense (Idannf), em 2005. O trabalho mostrou que as comunidades desconheciam as políticas públicas para atendê-los e proporcionou a inclusão dos grupos em ações como o Programa Luz Para Todos, que levava energia elétrica à áreas rurais. Também houve a inclusão no CadUnico e em programas de saúde que tratavam a anemia falciforme, doença que acomete a população negra. O programa foi destituído, recentemente pela atual gestão federal.
Todo acesso a essas políticas foi possível depois do processo de auto reconhecimento dos povos quilombolas, que originou as Cartas de Auto Reconhecimento dessas comunidades, que só em Campos são seis em áreas rurais: Aleluia, Batatal, Cambucá, Conceição do Imbé, Lagoa Feia e Sossego e uma em área urbana, o Quilombo de Custodópolis.
No ano passado, Lucimara foi empossada, por 48 comunidades quilombolas do Estado que a indicaram como presidente do Conaq, em cerimônia no Quilombo de Mesquita, em Goiânia- GO. A missão dessa coordenação é discutir políticas públicas em nível nacional, estadual e articular as bases em nível municipal.
Uma rede foi montada, na busca de apoio do Estado e do Governo Federal, como a certificação das Cartas de Auto Reconhecimento dos quilombos da região. O próximo desafio é o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que deverá ocorrer no ano que vem.
A luta ainda faz Lucimara questionar o processo de invisibilização dos negros em Campos. “Porque um município que, no Século XVIII tinha 70 mil habitantes e 40 mil deles eram negros escravizados ainda está em processo de reconhecimento dessa história? Por que ainda não há política pública para o povo negro?”, indaga.
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