O ex-governador Sérgio Cabral admitiu que pagou US$ 2 milhões para que o Rio de Janeiro fosse sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O dinheiro foi pago ao então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAFF, na sigla em inglês), Lamine Diack.
Embora já houvesse suspeitas sobre a compra de votos pelo Brasil, a primeira vez que Cabral admitiu oficialmente o pagamento de propina foi durante audiência realizada nesta quinta-feira (4), na 7ª Vara Federal Criminal.
Logo na abertura do interrogatório, Cabral foi perguntado pelo juiz Marcelo Bretas se ele tinha conhecimento dessas negociações “espúrias”. O ex-governador passou a contextualizar a campanha do país para sediar as Olimpíadas e contou que um dia foi procurado pelo então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o diretor de operações do COB, Leonardo Griner, que disseram ser necessário pagar uma quantia para garantir os votos sob influência de Diack.
Segundo Cabral, eles disseram que seria necessário US$ 1,5 milhão pagos a Diack, que dizia ter oito votos entre os membros da IFAA, incluindo o do ucraniano Sergei Bubka, ex-recordista mundial do salto com vara, e do nadador russo Alexander Popov.
Para conseguir o dinheiro, Cabral relatou que recorreu ao empresário do setor de serviços, Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, atualmente foragido, que tinha inúmeros contratos com o estado do Rio. Arthur teria feito o repasse da primeira parte da propina para Diack, depois complementado com o aporte de US$ 500 mil.
De acordo com o ex-governador, o dinheiro pago a Diack pelos votos era de sua propriedade e que o motivo foi deixar legados ao estado do Rio, o que poderia, futuramente, ainda que de forma indireta, beneficiá-lo em sua carreira política.
Cabral disse que o ex-deputado estadual Carlos Roberto Osório, que era funcionário do COB, sabia de toda a transação. Disse também que o ex-prefeito Eduardo Paes também ficou sabendo do pagamento de propina, embora não tenha participado diretamente da ação ilegal. O ex-governador revelou ainda que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou sabendo, de forma indireta, logo após a vitória do Brasil na votação, mas ressaltou que ele não se envolveu na negociação.
Defesa
O advogado de Nuzman, João Francisco Neto, disse que seu cliente é inocente e que não participou das supostas operações de pagamento de propina envolvendo a compra de votos.
O advogado Marcos Vidigal Crissiuma, que defende Griner, se manifestou em nota: "Ficou claro que Sérgio Cabral falta com a verdade e não apresenta qualquer prova de seus relatos, mantendo-se íntegra a prova produzida na instrução criminal que isenta Leonardo Gryner de qualquer responsabilidade. Se houve compra de votos, ele não participou".
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