Além de ser um dos maiores desafios pessoais que se possa enfrentar, o câncer também traz um impacto enorme na vida familiar. Quando os filhos são adultos, supõem-se que vão reagir com maturidade e ajudar, embora nem sempre isso ocorra. Mas como abordar a questão com crianças e adolescentes? Mesmo que a notícia vá causar apreensão e angústia, não finja que está tudo bem. É o que prega a cartilha do National Cancer Institute, entidade norte-americana que é referência para a doença. Até os pequenos percebem quando há algo errado, portanto não piore a situação com uma mentira que não se sustentará por muito tempo. Também não se afaste de seus netos, nem deixe que seus filhos interrompam essa convivência, a não ser quando estiver cansado/a demais por causa do tratamento. Todos poderão ter que assumir novos papéis e responsabilidades, é fundamental abordar o problema abertamente.
O que as crianças devem saber: em primeiro lugar, que não têm qualquer culpa – o câncer não aconteceu por causa de algo que fizeram ou disseram. Explique que estar doente não significa que você vai morrer e que, além disso, os cientistas trabalham para descobrir novos remédios para combater a doença. Faça com que entendam que é normal se sentir triste, zangado ou com medo, que os sentimentos não precisam ser reprimidos e devem ser compartilhados. Em alguns casos, a criança pode se ressentir de não receber a mesma atenção de antes e apresentar regressão no comportamento, ou ir mal na escola. Não se furte de pedir auxílio em casa: filhos ou netos podem lavar a louça, arrumar seus quartos ou simplesmente fazer companhia. Como os adolescentes podem se retrair, sugira que conversem com outras pessoas do seu círculo: amigos ou adultos que possam dar esclarecimentos. Não deixe que se sintam excluídos e, na medida do possível, faça com que participem das decisões.
Voltando aos filhos que são adultos, principalmente aqueles que sempre viram pai e mãe como autênticas fortalezas à prova de qualquer intempérie: às vezes também é difícil para os pais pedirem ajuda, esse é um aprendizado para os dois lados. Eles devem ficar cientes do tratamento, dos medicamentos e efeitos colaterais, para que tenham a real dimensão do tempo e cuidado que devem dispensar. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima que, entre 2018 e 2019, o Brasil tenha 1,2 milhão de novos casos de câncer. Apesar de tantas emoções envolvidas, pense em suas diretivas antecipadas de vontade: como gostaria de ser cuidado pela equipe médica se a doença evoluir para um quadro incurável e terminal. Embora 90% das pessoas digam que é importante conversar com os familiares sobre os cuidados no fim da vida, apenas 27% afirmam tê-lo feito.
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