No mundo todo, 6,1 bilhões de pessoas correrão o risco de contrair dengue em 2080 - o equivalente a 60% da população projetada para o fim do século XXI. O índice representa um aumento de 2,25 bilhões de casos em relação a 2015. Segundo estudo publicado na revista científica Nature Microbiology, na última segunda-feira (10), os principais fatores que explicam o fenômeno são o aquecimento global e o crescimento da população em áreas endêmicas.
O mosquito Aedes aegypti aparece em áreas tropicais e subtropicais. No calor, o período reprodutivo é encurtado, ele bota mais ovos e pica um número maior de pessoas. Por isso, a elevação das temperaturas pode aumentar a incidência do inseto em regiões que já registram casos da doença.
O problema mais grave continuará concentrado na América do Sul, no sudeste asiático e na África central, que já são áreas endêmicas. De acordo com os cientistas, as previsões apontam que a população desses continentes vá aumentar - o que pode sobrecarregar os sistemas públicos de saúde de nações pobres.
Em resumo: países que já sofrem com a dengue, como o Brasil, devem ficar mais quentes, com temporadas mais longas de transmissão da doença e casos mais severos. Se, ainda por cima, a população crescer, o número de pessoas com risco de contaminação será naturalmente maior.
Além disso, países que não sofrem com a dengue, mas que registrarão aumento nas temperaturas, também estarão sujeitos à propagação do vírus. É o caso, por exemplo, do sudeste dos Estados Unidos, da costa da China e do Japão, do interior da Austrália e de áreas com elevada altitude no México e na Argentina. Segundo o estudo, caso não sejam implementadas iniciativas para conter o aquecimento global, essas regiões registrarão casos de dengue no futuro.
O estudo publicado na Nature Microbiology faz um prognóstico dos casos de dengue em 2020, 2050 e 2080. Para chegar aos resultados, cientistas analisaram as mudanças climáticas previstas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Também foram examinados os casos da doença registrados entre 1960 e 2015, levando em consideração as variações de temperatura, chuva, umidade, Produto Interno Bruto (PIB), densidade populacional e probabilidade da aparição do mosquito transmissor.
O estudo faz uma ressalva: caso os países decidam seguir uma política de crescimento mais sustentável, é possível frear o aumento dos casos de dengue. Sem a elevação das temperaturas, o número de pessoas com a doença não chegará aos 6 bilhões, previstos para 2080.
Além disso, o prognóstico também pode ser melhor caso haja avanços na ciência e sejam distribuídas, em larga escala, vacinas seguras contra a dengue.
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