A análise genética tem sido uma das ferramentas mais usadas em pesquisas médicas. A observação detalhada obtida por meio dessa tecnologia é uma grande aliada na busca por causas de enfermidades ainda não bem compreendidas. Graças a esse recurso, pesquisadores norte-americanos conseguiram identificar fatores moleculares envolvidos no Parkinson, um problema neuromotor que atinge a população idosa. Os dados, apresentados na última edição da revista Nature Communications, podem ajudar no desenvolvimento de novas terapias.
O estudo é continuação de uma pesquisa do mesmo grupo, que analisou outra doença neurodegenerativa cujos mecanismos moleculares também são pouco conhecidos: o Alzheimer. “Publicamos um estudo na revista Cell em 2013 sobre essa enfermidade. Ao revisar a literatura das doenças semelhantes a esse tipo de demência, observamos que não havia modelos de redes moleculares eficazes para o estudo da doença de Parkinson idiopática (sem causa definida), que é a mais comum aos pacientes, respondendo por 80% dos casos”, conta ao Correio Bin Zhang, professor de genética e ciências genômicas na Escola de Medicina Icahn de Monte Sinai, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores combinaram dados de oito estudos diferentes em que foram feitas análises post mortem da substância negra — a parte do cérebro mais afetada pela doença de Parkinson. Isso deu à equipe um conjunto de dados de mais de 83 pacientes, que foi comparado ao formado por informações de 70 voluntários que não tinham a doença. Zhang e os colegas usaram uma técnica estatística de alta precisão chamada análise multiescala de redes de genes (MGNA, em inglês).
“Essa abordagem de análise de rede em várias escalas é uma maneira poderosa de dissecar os mecanismos moleculares de doenças complexas, como o Alzheimer”, explica. Com a aplicação da tecnologia, eles identificaram vários reguladores-chave das redes de genes que nunca haviam sido associados ao Parkinson.
Em seguida, a equipe partiu para a validação das descobertas em experimentos com camundongos. Para isso, escolheram o regulador-chave STMN2, que normalmente é expresso em neurônios que produzem a dopamina, um neurotransmissor que é encontrado em quantidade reduzida na substância negra dos pacientes de Parkinson.
Ao silenciar o gene STMN2 na substância negra das cobaias, elas passaram a desenvolver complicações ligadas ao Parkinson, como degeneração dos neurônios relacionados à dopamina na substância negra e aumento na concentração da proteína alfa-sinucleína. Além disso, os animais passaram a realizar tarefas motoras com dificuldade, como manter o equilíbrio em uma haste, um indicativo da interrupção do controle dessa função motora. “Esse estudo oferece uma nova abordagem para entender a maioria dos casos de Parkinson”, frisa Zhang.
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