A câmera acoplada no capacete registrou o momento em que Robson da Cruz, de 34 anos, chegou para resgatar um idoso de 84 anos que estava sobre o telhado de uma casa e perguntou: "Seu Leonel, deixa eu falar uma coisa: sabia que o senhor tem o mesmo nome do meu pai?".
O resgate aconteceu em 4 de maio, em Canoas, na Grande Porto Alegre, um dos municípios mais afetados pelas enchentes que atingiram o estado. A tragédia já deixou mais de 113 mortos e de 140 desaparecidos.
"Eu deitei tranquilo às 21h, não tinha nada de água aqui na rua", se surpreendeu o idoso, ao ser resgatado. Ele também se lembra de outro alagamento em sua rua, ocorrido quando ele tinha apenas 27 anos de idade.
"Em 1967, peguei a última enchente, aqui [na rua] dava 0,5 metro", afirma, referindo-se ao nível da água na época, bastante inferior ao visto agora. Naquele ano, Porto Alegre sofreu com uma grande enchente. Apenas depois daquela catástrofe, e já na década de 70, foi construído um sistema para evitar inundações, com diques, casas de bombas e comportas.
Seu Leonel, na verdade, se chama Eronel Rodrigues. Depois do resgate de 4 de maio, foi levado a uma escola municipal temporariamente transformada em abrigo. Lá, encontrou mais solidariedade. A pedagoga Eveline Pacheco, de 36 anos, que atua como voluntária, contou que a primeira preocupação foi conseguir uma bolsa de colostomia, da qual o idoso faz uso.
Depois de conseguir o acessório hospitalar, ela e outros voluntários se uniram para arrecadar recursos para que Eronel reconstrua sua vida, já que ele chegou só com a roupa do corpo e mora sozinho em sua casa.
“Seu Eronel é um homem muito carismático, respeitoso e bondoso, com seus 84 anos de vida, passando por tudo isso, não deixa de ter fé e manter um sorriso no rosto. É um grande guerreiro”, disse Eveline.
Nesta quarta-feira (8), ele gravou um vídeo de agradecimento aos seus resgatistas: “Agradeço pelos salvamentos, vocês são muito simpáticos e de muita coragem”.
O resgate de seu Eronel foi um dos mais marcantes Robson, que há mais de uma semana atua sem parar como voluntário nos resgates. Ele trabalha como guarda-vidas em Tramandaí, no litoral do Rio Grande do Sul.
Até o começo do mês, seu perfil nas redes sociais era marcado por fotos na praia, surfe e dias ensolarados.
Ele mobilizou outros colegas guarda-vidas, e o primeiro ponto de parada foi município de Montenegro. Ao lgongo de mais de uma semana de resgates, também já passou por Canoas e Porto Alegre, e nos próximos dias deve ir para São Leopoldo.
Para os salvamentos, o grupo conta com barcos emprestados e até com uma prancha grande, usada par apraticar stand up paddle. Com ela, já foram resgatadas pessoas ilhadas e animais de estimação.
A câmera no capacete registrou os bastidores dos salvamentos: idosos encharcados, animais acuados pela água e a dificuldade de andar sobre telhados.
Questionado até quando pretende atuar como voluntário na tragédia, Robson é categórico: “Até acabar as buscas pelas pessoas, vivas e mortas”.
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