O Benin viveu um dos momentos mais tensos de sua história recente neste domingo, 7 de dezembro, quando um grupo de soldados apareceu na TV estatal para anunciar que havia tomado o poder e dissolvido as instituições nacionais. O pronunciamento, feito por ao menos oito militares, afirmou que um comitê liderado pelo coronel Tigri Pascal assumiria o comando do país, declarando que “o Exército se compromete solenemente a dar ao povo beninês a esperança de uma era verdadeiramente nova, em que fraternidade, justiça e trabalho prevalecem”.

Logo após a transmissão, o governo reagiu. O ministro do Interior, Alassane Seidou, disse que “um pequeno grupo de soldados lançou um motim com o objetivo de desestabilizar o país e suas instituições”, garantindo que a situação estava sob controle. A avaliação foi reforçada pelo ministro das Relações Exteriores, Olushegun Adjadi Bakari, que afirmou que “há uma tentativa, mas a situação está sob controle” e que a maior parte do Exército permanece leal ao presidente Patrice Talon.

A União Africana condenou a ação militar e pediu respeito à Constituição. A tensão se espalhou por Cotonou, a maior cidade do país, onde moradores relataram tiros em vários bairros. A embaixada da França informou que disparos ocorreram próximo à residência oficial do presidente e recomendou que seus cidadãos permanecessem em casa.

A instabilidade ocorre às vésperas da eleição presidencial marcada para abril de 2026, quando se encerraria o mandato de Talon, no poder desde 2016. A coalizão governista havia escolhido o ministro das Finanças, Romuald Wadagni, como candidato para suceder o presidente, vista como uma tentativa de continuidade da agenda econômica.

No entanto, o episódio reacende dúvidas sobre a transição política, em uma região marcada por instabilidade. Desde 2020, golpes e tentativas de golpe já ocorreram em Guiné-Bissau, Mali, Níger, Burkina Faso e outros países da África Ocidental e Central. O ambiente de segurança no Benin também se deteriorou, com crescimento de ataques jihadistas, especialmente no norte, onde 54 soldados foram mortos em abril em uma ofensiva atribuída a um grupo ligado à Al-Qaeda.

O grupo militar que apareceu na TV, autodenominado Comitê Militar para a Refundação, afirmou que “Patrice Talon está destituído de suas funções de presidente da República”. O paradeiro de Talon não havia sido confirmado no início da manhã, embora sua equipe garanta que ele está seguro. Em seguida, o sinal da TV estatal foi cortado, sugerindo que tropas leais buscavam retomar o controle.

Um jornalista da AFP relatou que soldados bloqueavam o acesso à sede da Presidência, à televisão e a áreas sensíveis de Cotonou, incluindo o hotel Sofitel e bairros com instituições internacionais. Apesar disso, outras regiões da capital registravam aparente normalidade, sem presença militar visível.

Críticos afirmam que a recente adoção de uma nova Constituição, que estendeu o mandato presidencial de cinco para sete anos, intensificou tensões políticas internas. A oposição alega que a mudança favoreceu a coalizão governista e reduziu a competitividade das eleições.

O episódio no Benin coloca o país no centro das atenções internacionais e amplia o mapa de instabilidade na África Ocidental. Mesmo com o governo declarando que a tentativa foi frustrada, a situação permanece sensível e acompanhará o país durante o processo eleitoral programado para 2026.