A denúncia do Ministério Público (MP) contra o médico Luiz Antonio Garnica e a mãe, Elizabete Arrabaça, revela as motivações e circunstâncias em que eles planejaram e executaram a morte por envenenamento da professora de pilates Larissa Rodrigues, em março deste ano em Ribeirão Preto (SP).
Ao aceitar a denúncia e decidir por tornar marido e sogra da vítima réus, a Justiça também converteu a prisão temporária deles em preventiva. Com isso, os dois, que estão presos desde 6 de maio, permanecerão na cadeia ao menos até o julgamento, ainda sem data definida. Mãe e filho alegam inocência.
O Ministério Público denunciou Garnica e Arrabaça por feminicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da professora.
Garnica ainda foi acusado por fraude processual, por ter alterado a cena do crime no dia em que Larissa foi encontrada morta no apartamento em que vivia com ele.
Veja abaixo destaques da denúncia do MP contra os réus:
Partilha de bens
Garnica e Arrabaça agiram para evitar uma partilha de bens, segundo o MP. Dias antes de ser morta, Larissa havia descoberto que o marido mantinha um relacionamento extraconjugal.
Na véspera, ela chegou a enviar uma mensagem a Garnica mencionando que veria um advogado no início da próxima semana para começar a tratar da separação. Na mesma noite, diz a denúncia, Garnica entrou em contato com a mãe, que esteve no apartamento da nora por cerca de quatro horas.
O promotor destaca que o crime foi praticado por motivo torpe, impulsionado pelo desejo de Garnica de evitar a partilha de bens e de viver seu relacionamento com a amante, com a colaboração de Elizabete.
Testemunhas relatam que Elizabete demonstrou forte oposição à ideia de Larissa ficar com metade do apartamento em caso de divórcio, considerando a partilha injusta. Essa preocupação patrimonial, somada aos seus próprios problemas financeiros, teria motivado a mulher a aderir ao plano criminoso.
"A questão patrimonial tornou-se um dos pontos centrais de preocupação para Luiz Garnica, conforme ele mesmo confidenciou à amante. [...] A perspectiva de Luiz Garnica de ter que partilhar o patrimônio, especialmente o apartamento do casal, e a necessidade de se reestruturar financeiramente para suportar os custos de uma nova moradia ou compensar a cota parte de Larissa, revelou uma das motivações determinantes para a eliminação da vítima", argumenta o promotor Marcus Túlio Nicolino.
Obsessão pelo relacionamento extraconjugal
O Ministério Público descreve Garnica como alguém obcecado por seu relacionamento extraconjugal e pela eliminação de Larissa para viver o romance.
A denúncia cita que o médico planejou o crime porque passava por problemas financeiros e se recusava a aceitar se divorciar da esposa e ter que fazer a divisão do patrimônio.
As investigações indicam que Garnica avisou a amante sobre a morte de Larissa 15 minutos antes da constatação oficial do óbito, feita pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Ainda segundo a denúncia, Garnica recusou-se a conceder o divórcio, optando por manter a Larissa sob seu domínio, ao mesmo tempo em que desfrutava de sua relação paralela com a amante.
"A propósito, cumpre mencionar que, conforme consta em denúncia anônima, o denunciado, conhecido por seu temperamento instável e possessivo, teria ameaçado a vítima, afirmando que, caso ela insistisse no divórcio, ele ceifaria sua vida por meio de uma injeção letal", destaca a promotoria.
A denúncia mostra um detalhe que ilustra a intensidade da paixão de Luiz pela amante. A polícia encontrou em seu histórico de buscas online pesquisas sobre a compatibilidade amorosa dos signos "leão e aquário", referentes a ele e à amante. Essa pesquisa por afinidade astrológica foi realizada no início de março de 2025, dias antes da morte de Larissa.
“A nítida intenção de Luiz em prosseguir com a amante livremente se tornou clara após o crime, quando, em questão de dias, ele colocou [a amante] dentro de seu apartamento onde vivia com Larissa, e, menos de um mês após a morte da vítima, apresentou sua amante formalmente à sua mãe, Elizabete, em um almoço. Essa conduta revela um desinteresse absoluto pela memória da vítima e uma frieza atroz em perseguir seus interesses pessoais em detrimento da vida de sua esposa”, complementa Nicolino.
A denúncia do Ministério Público também aponta que mãe e filho agiram de forma premeditada. O envenenamento, conforme a denúncia, foi progressivo, com doses diárias visando debilitar a vítima até causar a morte e dar a impressão que ela havia sofrido uma complicação decorrente de intoxicação crônica.
“A Larissa foi sendo envenenada ao longo de 10, 15 dias, em doses menores. Mas naquela sexta-feira a Larissa manifestou desejo de já na segunda-feira procurar um advogado. Ali seria o final do relacionamento e a consequente partilha de bens comuns ao casal. A Elizabete vai até o apartamento e, lá, dá uma nova dose, presumimos, mais forte porque a Larissa vem a morrer na madrugada", diz o promotor.
Segundo o MP, em algumas ocasiões, Garnica chegou a buscar a sopa envenenada preparada pela mãe para oferecê-la à esposa. Além disso, ele medicou Larissa em pelo menos duas ocasiões com substâncias providenciadas pela mãe, sem que a vítima soubesse o que estava ingerindo.
Em consequência da intoxicação causada pela administração progressiva do veneno, Larissa começou a manifestar sintomas como náuseas, vômitos e diarreia.
“Em um desses episódios de mal-estar, Larissa chegou a pedir para ser levada ao hospital, mas Luiz Garnica além de se recusar a levá-la, proibiu a ofendida de ir ao hospital, em clara intenção de impedir Larissa na busca por socorro médico adequado, optando por acionar sua mãe para que trouxesse os 'remédios'. A vítima, em meio à sua agonia, chegou a confidenciar que sentia que iria morrer, evidenciando o sofrimento prolongado e a progressão do envenenamento”, afirma a promotoria na denúncia.
Sogra se passava por amiga e cuidadora
O Ministério Público sustenta que Elizabete não só tinha conhecimento integral da infidelidade do filho como o auxiliava na ocultação, monitorando o que Larissa sabia sobre o relacionamento extraconjugal. Ela chegou a demonstrar indignação quando a vítima filmou Garnica entrando e saindo do apartamento da amante.
Segundo o MP, Elizabete se valeu da relação de confiança e da proximidade com a nora para ministrar o veneno de forma dissimulada. Enquanto Larissa se recuperava de episódios de mal-estar, a sogra, sob o pretexto de cuidado e amizade, leva alimentos e até "remédios", que na verdade continham a substância tóxica.
“A ação de Elisabete Arrabaça, por sua vez, revelou um desvio de caráter igualmente reprovável e monstruoso. Movida por um amor doentio e possessivo em relação ao filho, e impulsionada por suas próprias dificuldades financeiras e interesse na manutenção do patrimônio do casal, a denunciada não hesitou em auxiliar Luiz na execução de seu plano macabro. A premeditação de Elizabete é ainda mais evidente pelo seu histórico de buscas online em seu celular, realizadas em fevereiro e março de 2025, por termos como 'formas de intoxicação', 'veneno chumbinho' e seus efeitos, e 'intoxicação por organofosforados e carbamatos', o que demonstra um estudo prévio e deliberado sobre a substância e seus modos de ação.”
Garnica acessou contas bancárias da esposa e procurou quitar parte do valor do apartamento financiado onde vivia com a vítima quatro dias após o assassinato.
De acordo com a investigação, após a morte, o médico demonstrou imediata preocupação com o patrimônio de Larissa. Veja as movimentações identificadas pela polícia:
Para a polícia, o médico tinha pressa para assegurar a totalidade do apartamento e persistente interesse em acessar os bens da vítima.
Logo após a morte, ele passou a pesquisar por temas como "seguros e operações imobiliárias", "fundo de garantia e rescisão contratual pós falecimento" e "tabela Fipe do veículo Creta/2019", o que demonstra fria preocupação com o patrimônio da vítima e com as vantagens financeiras advindas de sua morte.
Em depoimento à polícia, o gerente de um banco havia apontado as tentativas de transações feitas por Garnica na conta da esposa, sendo que chegou a gastar R$ 2,5 mil para pagar uma conta de farmácia com o cartão de débito dela.
Em nota, os advogados Bruno Corrêa e João Pedro Soares Damasceno, que representam Elizabete, disseram que já esperavam a denúncia, mas reprovaram a decretação da prisão preventiva por não haver, segundo eles, razões que sustentem a medida. De acordo com a defesa, a idosa não oferece risco de fuga ou à ordem pública.
“Procuraremos retomar a liberdade de nossa cliente através das ferramentas legais disponíveis, para que ela possa responder a essa acusação e, eventuais outras, como a lei determina, solta.”
O advogado Júlio Mossin disse que a inocência de Garnica está comprovada nos autos. Segundo a defesa, a mãe do médico é a única responsável pelo crime e que ela agiu motivada pelo patrimônio do casal. A defesa também informou que vai impetrar um habeas corpus no tribunal.
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