Primeira musa a estampar três vezes a capa da "Playboy" (85, 86, 87), revista lançada há exatos 50 anos no Brasil, Magda Cotrofê é do tempo em que não existia photoshop e as "correções" eram feitas à mão, com pincel e tinta. Não que ela precisasse.

"O leitor quando me via pessoalmente dizia que eu era igualzinha a da revista. O responsável por fazer os retoques nas fotos, pintando mesmo, dizia também que eu era a que menos precisava, que eu era a que dava menos trabalho".

Mas, além da garota da "Playboy", da precursora do biquíni fio-dental, do destaque do carnaval, da musa dos programas de humor de Jô Soares, Magda Cotrofê quer que o público conheça também, como ela mesma diz, a "Magda alma", não só "o corpo".

Para isso, ela acaba de lançar, aos 62 anos e 40 de carreira, sua autobiografia, cujo título já entrega suas intenções: "O outro olhar de Magda Cotrofê" (Emó Editora).

Que outra Magda Cotrofê é essa?

É a Magda fora dos holofotes, mãe, empresária, um pouco além das páginas de revista e de tantas outras coisas que já fiz. Conto, por exemplo, da minha infância simples, mas muito rica, que tive em Campos dos Goytacazes (Norte Fluminense). Foi a parte mais dolorida de relembrar, a saudade dos meus pais...

Você sofreu muito assédio?

Era tão velado que a gente achava que era normal na época. Muitos trabalhos vinham sempre com outras intenções, com tentativas que estavam além do contrato. No começo, eu fui escudo de mim mesma. Não tinha empresário e era eu quem cuidava de tudo. Quando fiquei mais conhecida, tive que contratar um. Começou a ficar inviável.

Em sua primeira capa na "Playboy", você é anunciada como a "sucessora de Luiza Brunet", mas esse rótulo acabou não durando muito, não é?

Foi uma das minhas batalhas no início, não ficar presa a esse rótulo. A comparação começou por causa de um corte de cabelo que fiz na época. Mas eu e Luiza temos estilos bem diferentes. Ela acabou sendo mais modelo e eu abri o leque de possibilidades.

A fama já veio com o primeiro ensaio na revista?

A edição foi um estouro, sumiu das bancas em 15 dias, esgotou mesmo, ninguém achava mais um exemplar. Não acreditavam que eu venderia tanto. A "Playboy" foi um marco, mas eu vejo o boom maior da minha carreira quando fiz o Jô Soares. Também tinha o carnaval, quando a gente era destaque mesmo. Foi a partir dele que veio o convite para posar nua.

No seu último ensaio você aparece vestida de noiva. Como surgiu a ideia?

Eu não queria mais posar, mas eu estava com casamento marcado e surgiu a ideia de fazer de noiva, de uma noiva fazendo striptease. O povo da revista ficou até amigo do pai dos meus filhos para ajudar a me convencer. Acho que só teve uma outra edição no mundo com a modelo de noiva também.

Das três revistas, qual é a sua preferida?

O ensaio de noiva mesmo. É lindo, tudo funcionou muito bem. Não gosto da primeira capa (com os seios de fora). Gosto das fotos na natureza, me sentia livre, nua, longe da equipe. Complicado foi fazer as fotos no quarto, com a equipe muito próxima. Gosto da segunda também, com aquele maiô clássico. Eu já estava com moral na revista e pedi que as fotos fossem feitas fora do país. Bob Wolfenson foi o fotógrafo. Fizemos em Aruba. Tem uma foto, minha saltando, que foi parar no livro da "Playboy". É uma obra de arte.

Muitas musas daquela época namoraram homens famosos e gostavam de expor isso. Você não namorou famosos? Você está solteira hoje?

Tive, sim, namoros com homens famosos, mas ninguém sabe. Nunca fui muito de expor minha vida pessoal. Meu nome já estava toda hora nas páginas das revistas, não precisava. Até falo no livro de um famoso, sem dar o nome. Se pesquisarem direitinho, dá para saber quem é (risos). Sim, estou solteiríssima.

Alguns anos trás você apareceu com sua filha Thalita num evento, e todo mundo brincou que ela seria sua sucessora...

Thalita trabalha como estilista, e é muito séria e competente no que ela faz. Tenho muito orgulho. Mas ela não gosta dos holofotes. Eu fazia ela desfilar, mas ela detestava. Nunca quis aparecer muito. É cheia de vergonha. Não puxou a mãe.