Hoje me lembrei de dona Rogéria, uma espanhola que me enchia de beijinhos e apertos, quando eu ainda era bem pequeno, na Barra do Imbuí. Dona Rogéria era avó de Antonio Luiz e Marisol, filhos de seu Luiz e dona Maria. Ela morava na casa que ficava abaixo da casa do “Tuiz” - assim chamávamos o Antônio Luiz. Eu sempre ia ver os coelhos branquinhos que tinha lá.
Uma vez ganhei até um pra criar e depois comer. Confesso que não tive coragem de deixar que matassem meu coelho. Acho que ele morreu de velho. Mas o Tuiz me chamava pra ir ver os coelhos e eu ia. Me lembro que também havia uma horta cheia de couve manteiga. Tuiz alimentava os bichos dando talos de couve. Eles adoravam e era muito divertido vê-los comer, pela tela de arame fino. Sempre que me via no seu quintal, dona Rogéria me chamava, me apertava e me enchia de beijos. Às vezes, na minha inocência de criança, queria fugir de tantos afagos. Mas, se ela me visse, não tinha como. O avô do Tuiz, seu Henrique, acamado, também era muito carinhoso comigo.
O pai do Tuiz, seu Luiz Hermida, era gerente na carpintaria onde meu pai trabalhava. Nossas famílias acabavam tendo um contato maior por causa disso. Dona Rogéria logo perdeu seu marido e com o tempo a visão foi indo embora, mas aquele amor que ela tinha por mim, não. Confesso que não conseguia entender bem tanto chamego, mas quando soube que ela se foi, só conseguia lembrar daqueles abraços apertados, que me protegiam como um abraço de mãe. Todo aquele carinho foi transportado pra Dona Maria, sua filha. Outro amor de pessoa. Fui crescendo e vendo que essas pessoas me formaram no que sou hoje.
Além de minha mãe de fato, as mães e avós dos meus amigos tiveram papel importante na minha formação. Hoje senti saudade de Dona Rogéria e seus beijinhos. Mas posso dizer que ainda tive o amor de Dona Noêmia, mãe de Marcelo e Fatinha, Dona Nilza, mãe do Serginho, Sandra, Celso e Patrícia. Dona Zeni, mãe de Wesley, Wesly e Werney. Tinha Dona Aracy, mãe de Estela, Gracinha e Luis. Todas mães, quase todas Marias em sentimentos e dedicação integral, com amor de sobra pra compartilhar com a molecada da minha rua, que não saia dela, a não ser quando chamados nos muros das casas que a compunham. Quando a infância é rica, ela não morre dentro de nós. É uma chama que nos aquece sempre que a recordação vem. Consigo até ouvir dona Rogéria me chamando pra me dar beijinhos apertados.
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