Quarta-feira, 16 de julho de 2025

Campista, Piruinha é velado com homenagens de sambistas e contraventores

Aos 95 anos, ele era o mais velho da cúpula do bicho e enfrentava problemas de saúde

23/01/2025 às 18h30 23/01/2025 às 18h31 Girlane Rodrigues

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Aos 95 anos, ele era o mais velho da cúpula do bicho e enfrentava problemas de saúde / Foto: Vittoria Alves/Agência O Globo

Familiares e amigos se reúnem, na tarde desta quinta-feira, para dar o último adeus ao bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, de 95 anos, no Clube Sambola, em Piedade, na Zona Norte. Além das centenas de pessoas que passam pelo local, cerca de 30 coroas de flores carregavam mensagens de carinho. Uma delas é assinada pela família Guimarães, que tem como patrono o contraventor Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães. Famosos, como o cantor Zeca Pagodinho, o Grupo Revelação e a cantora Alcione também enviaram homenagens.

Escolas de samba também enviaram homenagens e coroas de flores com sentimentos como a Unidos da Tijuca e a Grande Rio. Em cima do caixão e num maestro, foram colocados os pavilhões do Salgueiro, Mangueira, Portela, Imperatriz, Unidos do Cabuçu e Acadêmicos da Abolição.

 

O cantor Xande de Pilares foi um dos artistas a comparecer ao velório. Ele não segurou as lágrimas ao falar sobre a importância do bicheiro na sua carreira:

Abalados, alguns dos 27 filhos de Piruinha e os netos foram consolados com abraços e falas de apoio. Um dos netos, Júnior Escafura, se diz orgulhoso de saber o quanto o avô era querido e perceber que seu legado será eterno.

— Meu avô era uma pessoa querida, é só ver a quantidade de gente que está aqui. É um momento triste, mas, ao mesmo tempo a gente tem o conforto de que ele descansou. Ele tinha 95 anos, curtiu e viveu a vida. Meu avô ainda estava passando por uns problemas de saúde, então agora ele descansou em paz porque ele não merecia sofrer — afirma.

— Seu Zé era pai, avô e tio. Ele faz parte da minha história toda. Quando eu vinha aqui no Sambola, do outro lado da rua, uma vez não deixaram eu cantar, e ele que pediu para deixarem eu me apresentar. Aí agora, antes de sair o resultado do samba enredo, a gente se reuniu, ele me abençoou. A única coisa que ele sempre pediu para mim foi para manter o pé no chão. O pai que eu perdi, ele entrou no lugar dele.

Já o outro neto José Luiz Escafura lembra do quanto o bicheiro gostava de realizar festas tradicionais no subúrbio. Ele aponta que Piruinha foi um incentivador do carnaval, do samba e de artistas que hoje se destacam no cenário da música brasileira.

— Recebemos diversas manifestações nas redes sociais, as pessoas de Abolição e Piedade estão sentindo muito esse momento. Foram muitas pessoas que ele ajudou nesse bairro. Além disso, ele que era responsável por fazer todas as festas tradicionais. Ele incentivou o carnaval e a música, é só ver quantos artistas ele lançou aqui no Sambola. Os moradores do bairro acabam ficando órfãos, ele foi único — conta.

O contraventor morreu na tarde de ontem, quarta-feira, em sua residência na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele havia recebido alta um dia antes, após passar 10 internado no Hospital Vitória, no mesmo bairro, devido a uma pneumonia.

Problema de saúde

Segundo o amigo e advogado Joaquim Queiroga Neto, a saúde de Piruinha começou a deteriorar após um acidente no banheiro de um presídio, onde estava detido sob acusação de homicídio. Na queda, ele fraturou a bacia e precisou ser submetido a uma cirurgia. Posteriormente, foi para casa em regime de prisão domiciliar e chegou a usar tornozeleira eletrônica, que foi retirada pouco tempo depois. Com problemas cardíacos, Piruinha também foi internado novamente para realizar uma ponte de safena.

— Infelizmente, recebemos essa notícia inesperada. Ele foi internado devido a uma gripe que evoluiu para pneumonia, mas reagiu bem aos antibióticos e recebeu alta — lamentou o amigo.

Piruinha era o contraventor mais antigo da velha cúpula do jogo do bicho. Recentemente, ele foi um dos destaques da série documental Vale o Escrito, da Globoplay. Entre os nomes da antiga geração, continuam vivos Aniz Abraão David, o Anísio, e Aírton Guimarães Jorge, conhecido como Capitão Guimarães.

Prisões do bicheiro

Piruinha era um dos 14 bicheiros presos por formação de quadrilha ou bando armado, tráfico de drogas e tortura, pela juíza Denise Frossard, em 1993. Os contraventores presos à epoca, formava a antiga cúpula da contravenção: Castor de Andrade; Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; "Anisio" Abraão David; Luizinho Drummond; Antônio Petrus Kalil, o Turcão; Waldemiro Garcia, o Miro; Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã; José Petrus, o Zinho (irmão de Turcão); Raul Capitão; José Caruzzo Escafura, o Piruinha; Haroldo Rodrigues Nunes, o Haroldo Saens Pena; Emil Pinheiro, Paulinho de Andrade (filho de Castor) e Waldemir Paes Garcia, o Maninho (filho de Miro).

Em 2022, ele voltou a ser preso numa operação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), desta vez acusado de ser o mandante com a filha Monaliza Escafura, da morte de Natalino José do Nascimento Espíndola, conhecido como Neto, dono de uma loja de carros. O motivo do crime seria porque Neto teria feito ambos perderem dinheiro num empreendimento imobiliário.

Na denúncia para prendê-lo, o Ministério Público do Rio relata que o contraventor "exerce, há décadas, o domínio do jogo do bicho em diversas regiões da cidade, em especial nos bairros de Madureira, Abolição, Cascadura, Maria da Graça, Piedade e Inhaúma”. E prossegue: '“Piruinha ainda arrenda outras áreas para exploração de jogos de azar para outros contraventores, dentre elas as divisas com os bairros de Cascadura, Piedade, Pilares, Abolição, Quintino, Campinho e a divisa com a Praça Seca”.

Em abril do ano passado, Piruinha e a filha foram absolvidos do homicídio de Natalino. O julgamento ocorreu no 3º Tribunal do Júri da Capital.

Além de Monaliza, outro filho de Piruinha também teve envolvimento com os negócios ilícitos do bicho e da exploração das máquinas caça-níqueis: Haylton Carlos Gomes Escafura. O filho do bicheiro foi encontrado morto em um hotel na Barra da Tijuca, ao lado da mulher, a policial militar Franciene de Souza, em junho de 2017. Segundo a DHC, o crime foi motivado pelas disputas da contravenção.

Fonte: Extra

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