Mesmo sem uma grande queima de fogos e shows na Praia de Copacabana, o réveillon no Rio não deve passar em branco. A proposta da Riotur, que prepara o caderno de encargos para a virada, é espalhar shows de luzes pela cidade — com transmissão pela internet e TV — para evitar aglomeração. Não haverá balsas no mar com fogos, nem palcos. Em vez disso, o público poderá assistir em casa a lives gravadas em locais com acesso controlado, como Cristo Redentor e Parque Madureira. Na orla de Copacabana, uma ideia é fazer o espetáculo com iluminação especial nos dois fortes, mas num tempo bem menor do que o habitual. Na última virada, o show pirotécnico durou 14 minutos.
O prefeito Marcelo Crivella afirmou ontem que, na noite do dia 31, será feito um momento de silêncio para as vítimas e para quem perdeu familiares para a Covid-19.
— Nesse momento da celebração, nós faremos uma homenagem às nossas vítimas, a todos que nós perdemos. Há muitas famílias de luto, que no réveillon não vão celebrar, vão chorar, porque no ano passado tinham seus entes queridos próximos a elas. Vamos tentar conciliar — anunciou Crivella.
Presidente da Riotur, Fabricio Villa Flor de Carvalho adianta que, após essa homenagem, será feita a contagem regressiva: o plano é que a população conte os segundos para 2021 das suas janelas, transformando toda a cidade num grande coral.
Todo o plano, que trabalha com o cenário atual de propagação do novo coronavírus, foi discutido ontem com setores envolvidos no réveillon, como o de hotéis e o de bares e restaurantes. O presidente da Riotur garante que não haverá, por parte da prefeitura, incentivo para que moradores da cidade e turistas se desloquem para a Avenida Atlântica, que não terá acessos bloqueados. A princípio, também não será fechada ao trânsito. E o metrô não contará com esquema especial para Copacabana, que no ano passado recebeu 3 milhões de pessoas.
— A gente encara esse réveillon como um momento de reflexão por tudo o que se passou esse ano, com respeito às pessoas que se foram. E como uma virada de página para um 2021 melhor, com vacina para o coronavírus — diz Villa Flor de Carvalho.
Ele ressalta que a virada deve ser uma cerimônia sem público e, para isso, diz contar com a consciência da população.
— A nossa proposta é ter lives transmitidas pelo canal do YouTube da Riotur e, possivelmente, por alguma emissora de TV. Seriam lives pegando vários pontos turísticos da cidade, como os fortes de Copacabana e do Leme, o Parque Madureira, a Cidade das Artes, o Cristo Redentor, o Sambódromo, o Museu do Amanhã, a Igreja da Penha, o Parque de Deodoro e a Ilha do Governador — lista Villa Flor de Carvalho, acrescentando. — Todos os locais têm acesso controlado, e as lives respeitarão as regras de ouro contra a Covid-19.
Os pontos de transmissão de lives contarão também com show de luzes. O Aterro do Flamengo integra a lista de locais que terão iluminação especial. Em Copacabana, além de tecnologias como projeção de video mapping, poderá haver fogos iluminando o céu a partir dos fortes. A prefeitura ainda não procurou o Comando Militar do Leste para tratar do assunto.
O Santuário Cristo Redentor também não tinha sido informado oficialmente ontem da ideia de usar o monumento na celebração. Mas já virou tradição a estátua abrilhantar a virada com projeções.
O plano de encargos do réveillon do Rio, já discutido com a Vigilância Sanitária, deve ser divulgado, já com o aval do prefeito, em até 15 dias. De acordo com a Riotur, a intenção é que a virada, mais enxuta em termos de gastos, seja completamente bancada pela iniciativa privada. A festa em Copacabana custa em média R$ 16 milhões, sendo R$ 6 milhões somente com balsas e fogos.
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (ABIH-RJ), Alfredo Lopes define a proposta como “a possível" dentro do quadro atual da pandemia:
— Não dá para dizer que não vai ter réveillon. Ainda temos tempo até lá. Mas essa pandemia envolve surpresas, para melhor e para pior. Tem países que, depois de melhorarem, voltaram a ter lockdown.
Diante do plano, a estimativa é de ocupação de 70% dos hotéis — no ano passado a taxa foi de 98% —, com praticamente 100% dos turistas vindos de outros lugares do Brasil. O infectologista Ricardo Igreja, da UFRJ, diz que a não realização de queima de fogos e de show em Copacabana não garante que a praia ficará vazia, cabendo à prefeitura tomar medidas para restringir o acesso.
— Em cinco meses, o cenário pode sofrer mudanças. Mas, a não ser que o vírus despareça, o que é pouco provável, é certo que não poderá haver ter muita gente junto — afirma.
O presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes (SindRio), Fernando Blower, diz que recebeu a notícia sobre o novo modelo de réveillon com “resignação”:
— Sabemos que esta é a celebração viável no momento, mas reiteramos a preocupação do setor que emprega quase 100 mil pessoas na cidade com o impacto negativo provocado por uma redução desse porte num dos nossos principais eventos turísticos.
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