O jogo do bicho nasceu oficialmente no Rio de Janeiro, no final do Império, criado pelo Barão de Drummond para sustentar o zoológico que ele administrava. Sem apoio da recém-instalada República, o Barão idealizou uma loteria própria para financiar a alimentação dos animais. Assim surgia uma prática que se tornaria parte da cultura popular brasileira e, mais tarde, da crônica policial nacional.
Mas o que interessa aqui é outra história: o dia em que o bicho pegou em Campos dos Goytacazes.
Durante muito tempo, a cidade parecia viver em relativa tranquilidade no assunto. Isso até o início dos anos 1990, quando um episódio marcou uma virada. Um empresário conhecido, Leomar Passos, figura vitoriosa no setor, decidiu dar uma entrevista ao Bom Dia, programa da antiga TV Norte Fluminense, então repetidora da TV Globo. A emissora era de propriedade de Alair Ferreira Filho, e a entrevista foi conduzida pelo jornalista Giannino Sossai.
Na conversa, Passos se apresentou como dono de banca do jogo do bicho. A exposição pública surpreendeu parte das instituições locais, e um juiz da época provocou o Ministério Público para que fossem tomadas providências. O MP, por sua vez, solicitou diligências imediatas, dispensou a abertura de inquérito policial e partiu para ouvir pessoas ligadas ao jogo.
O resultado foi uma onda de prisões. Foram decretadas as preventivas de Leomar Passos, Hélio Alves Viana, José Amaro Pedra e de mais 147 pessoas, todas enquadradas no artigo 58 da Lei das Contravenções Penais. Os detidos foram custodiados no antigo presídio de Campos, na Avenida 15 de Novembro.
Naquele contexto, a entrevista de Passos foi entendida como afronta. O clima pesou ainda mais quando, no mesmo período, ocorreu a morte de um policial civil dentro de um espaço ligado à contravenção na cidade. Soma-se a isso o fato de que a Lei 8.137/1990, recém-implementada no governo Collor, já endurecia as regras para crimes contra a ordem econômica. E, como o caso se desenvolveu sem inquérito policial formal, criou-se um ingrediente adicional de pressão.
Apesar das prisões, o jogo continuou funcionando por meio de intermediários, de forma mais discreta. O ambiente era tenso: além da polícia, havia também a vigilância rigorosa de um promotor da época – hoje procurador do Estado do Rio de Janeiro.
O juiz que denunciou os bicheiros tinha fama de homem de poucos amigos, embora mantivesse intensa vida social. Mais tarde, deixou a magistratura para seguir outra carreira e vive atualmente na capital.
Em Campos, o bicho sempre foi tema delicado. A legalização do jogo no Brasil jamais avançou, apesar de outras modalidades de azar terem sido liberadas aos poucos. Para muitos, a contravenção persiste não pelo jogo em si, mas por tudo o que se associa a ele.
Mas existe um lado pouco falado: no bicho, vale o escrito. Sem disputa judicial, sem calote, sem demora. Enquanto isso, empresários de grandes corporações recorrem à recuperação judicial e deixam prejuízos bilionários para trás. Casos como o da Refit, das Lojas Americanas e até empresas ligadas ao Porto do Açu mostram como o sistema econômico tradicional protege a elite que dá o calote, enquanto o pobre que aposta no bicho segue marginalizado.
O jogo do bicho nunca foi considerado crime, mas contravenção. O crime surge quando há lavagem de dinheiro, já que os ganhos não podem ser declarados. Mesmo assim, muitos bicheiros eram tratados com prestígio social em Campos. Um deles, dono de uma casa luxuosa, promovia festas concorridas pela elite local. Era conhecido por cantar bem, mas não admitia conversas durante sua apresentação e não aceitava pedidos de música. O repertório era dele e ponto final.
Apesar da repressão, o jogo seguia vivo. Pequenas bancas repassavam apostas altas para bancas maiores a fim de evitar prejuízos. Episódios curiosos eram comuns: apostas em milhares ligadas a placas de carros envolvidos em acidentes, numerações de sepulturas de figuras conhecidas, entre outros. Quando morria um bicheiro de renome no Rio, a milhar associada ao túmulo era imediatamente cotada.
Com o tempo, as apurações passaram a ocorrer duas vezes ao dia: uma pela loteria e outra pelo famoso paratodos. Naqueles anos, ninguém questionava os resultados.
No Rio, o cenário também se transformava. Disputas internas, problemas de sucessão e violência passaram a marcar as grandes famílias envolvidas com o bicho. No período de Castor de Andrade, porém, o sistema era considerado mais estável. Castor, advogado e patrono do Bangu, tinha trânsito livre com a elite. Chegou a ter sua carteira da OAB cassada nos anos 1990, mas recuperou o registro graças a recurso feito por seu amigo e advogado Nélio Machado.
O jogo financiava o Carnaval carioca enquanto era simultaneamente condenado por setores da elite. Paradoxo típico do Brasil.
Hoje, enquanto celebridades ganham milhões em plataformas digitais de jogos online, o jogo do bicho continua sendo pauta preferida de séries televisivas, novelas e produtos culturais. Isso porque, apesar de tudo, mantém uma reputação construída ao longo de décadas: no bicho, vale o escrito. O pagamento é certo. E essa previsibilidade continua sendo sua propaganda mais poderosa.
A cerveja Claustrum é fruto de uma parceria entre o Mosteiro Beneditino de Campos dos Goytacazes e a Cervejaria Ranz, localizada em Nova Friburgo. A bebida une tradição monástica e...
Longe dos holofotes, Joana Machado reapareceu na última quinta-feira, 13, nas redes sociais para celebrar seu aniversário de 45 anos. A ex-modelo e personal trainer presenteou os seguidores com uma foto...
O governo brasileiro acompanha com atenção o acordo comercial anunciado entre Estados Unidos e Argentina nesta quinta-feira. O pacto prevê acesso preferencial de produtos americanos ao mercado argentino, incluindo veículos...
Uma operação realizada nesta quinta-feira (13) resultou na prisão de quatro indivíduos suspeitos de praticar pesca ilegal no Rio Paraíba do Sul, na região de Ernesto Machado, na cidade de...
Um homem foi encontrado morto no início da manhã desta quinta-feira (13) atrás de uma igreja no bairro Porto da Aldeia, em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do...
Aviso importante: a reprodução total ou parcial de qualquer conteúdo (textos, imagens, infográficos, arquivos em flash etc) do Portal Ururau não é permitida sem autorização e os devidos créditos e, caso se configure, poderá ser objeto de denúncia tanto nos mecanismo de busca quanto na esfera judicial. Se você possui um blog ou site e deseja estabelecer uma parceria com o Portal Ururau para reproduzir nosso conteúdo, entre em contato através do email: comercial@ururau.com.br
