É muito comum ouvirmos por aí que os revezes sofridos pelo deputado estadual e presidente da Alerj, Rodrigo Bacelar, são consequências exclusivas de seu temperamento.

Sim, a incapacidade do deputado em enxergar limites para seus ímpetos é parte do problema, mas não explica tudo.

Há uma coisa chamada história, e a história tem seus contingentes, ou seja, circunstâncias que moldam o nosso comportamento, como atores dessa história, na mesma medida que nós a transformamos (a história).

Em outras palavras…

Para chegar a governador do Estado não basta a ousadia de enfrentar os caciques da política regional e estadual, chutar canelas e bater nas mesas.

Antes de tudo, é preciso saber o quê fazer, a hora de fazer, e com quem fazer, sob pena de gastar energia e munição cedo demais, com inimigos mais poderosos que imaginou que seriam.

É preciso enxergar longe para chegar ao topo, olhar as nuvens mais altas (Brasília), “ler o futuro na borra do café no fundo da xícara”, como brincam os mais antigos.

O jogo virou, mas qualquer pessoa mais atenta saberia dizer que Lula não ficaria parado, olhando a centro-direita dividir o eleitorado no sudeste, no RJ e no resto do país.

Lula, eu já mencionei em outros textos, deu um nó no Centrão: vai destituir Antônio Rueda do União/PP, amansou Hugo Motta, afastou Lyra do jogo, colocou milhões em emendas para Alcolumbre.

Lula vem com força total para SP, e se a chance de fazer Alckmin/Haddad governador é pequena, com certeza um deles vai ao senado, e o PT comerá uma bela fatia do eleitorado paulista.

O cálculo no resto do país é idêntico, e no RJ ainda mais…se não ganha, pega uma parte do eleitorado, e enfim, se não tem candidato, vai criar coalizões para imobilizar as candidaturas de centro-direita e as mais extremas.

Assim, Lula vai apostar suas fichas em alianças ao centro, e pode até reforçar sua base no RJ com Eduardo Paes na vice-presidência, construindo uma chapa menos identificada com ele, óbvio, mas capaz de isolar os Bolsonaro.

Foi esse vendaval que varreu as pretensões de Rodrigo, e que ele não foi capaz de antecipar.

Quando Flávio Bolsonaro o coloca como um dos nomes, condicionando ao julgamento do Ceperj pelo TSE, está claro que Rodrigo está fora dos planos, porque ninguém se refere a uma possível candidatura com condições, ainda mais dessa natureza.

Ou você é ou não é candidato… se houver problema, faz a substituição.

Essa sinalização reduz Rodrigo a, no máximo, o papel coadjuvante de uma candidatura tipo “Ramagem”...

Se a centro-direita mais inteligente e pragmática entender o jogo, é possível que se construa uma enorme chapa de consenso, que inclua até um acordo de não agressão com Flávio Bolsonaro, muito mais interessado na sua reeleição ao senado que, embora não esteja ameaçada, por enquanto, pode ser mais difícil que pareceu até aqui.

Nesse cenário, onde Flávio Bolsonaro utilizaria um candidato de “baixo impacto”, até o papel de figurante faltaria para o Rodrigo Bacellar, porque seguir roteiro não é sua principal qualidade.

Como diziam os romanos, alea jacta est…a sorte está lançada.