Um dos traficantes mais procurados do Rio, Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, fugiu da polícia mais uma vez nesta quarta-feira. Durante a tarde, as polícias Civil e Militar montaram uma operação de emergência para prendê-lo após receberem a informação de que ele estava escondido em uma casa na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte do Rio. A ação levou um caos aos moradores da região. A Avenida Brasil precisou ser fechada e quatro pessoas foram baleadas.

O cerco ao traficante Peixão começou por volta de 13h, quando dois helicópteros da Polícia Militar foram para a região da Cidade Alta, Vigário Geral e Parada de Lucas, favelas que compõem o Complexo de Israel. Por terra, equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) entraram na favela da Cidade Alta. Durante a ação, um helicóptero blindado da PM foi atingido por tiros de fuzil e teve de fazer um pouso de emergência no Comando Naval da Marinha, na Penha.

Apesar de acumular 79 anotações criminais e responder a 26 processos no Tribunal de Justiça do Rio, nunca foi preso. A dificuldade em encontrar o criminoso tem vários motivos. Além de forte poder bélico, que faz uso até de drone para vigiar a polícia e lançar granadas em inimigos, a quadrilha do Peixão espalha barricadas por todas as favelas.

Em junho de 2023, uma trincheira chegou a ser montada com um fosso, dificultando e até impedindo que os carros transitassem numa rua, em frente à Estação Ferroviária de Cordovil, área que fica próximo ao Complexo de Israel. Na época, ao tomar conhecimento fato, anunciou que faria a remoção da barricada improvisada.

Tentativas de captura

No mês passado, o ex-porta-voz da PM foi exonerado do comando do 2º BPM (Botafogo) após se envolver em uma confusão em busca do traficante em um prédio na Zona Sul do Rio. O tenente-coronel teria recebido a informação de que o Peixão estaria no local para visitar o pai, um idoso de 70 anos. Não houve confirmação se o homem realmente morava no condomínio.

Em outubro do ano passado, a PM precisou recuar de uma operação no Complexo de Israel após um tiroteio na Avenida Brasil deixar três mortos e três feridos. Na época, autoridades das forças de segurança informaram que os agentes chegaram próximo de um alvo importante para a comunidade. Por isso, segundo a PM, a reação dos criminosos foi de atirar em direção aos civis para desarticular a ação da polícia.

Quem é Peixão?

O criminoso foi o fundador do Complexo de Israel, uma espécie de subfacção ligada ao Terceiro Comando Puro (TCP). Nas comunidades sob seu comando, Peixão espalhou símbolos bíblicos e frases religiosas, como "Jesus é o dono desse lugar".

No entanto, o que mais chama a atenção de quem passa pela Linha Vermelha ou pela Avenida Brasil é uma grande Estrela de Davi iluminada, instalada a seu mando. O símbolo, considerado um amuleto de proteção para os israelenses, pode ser visto a quilômetros de distância e serve como uma demonstração de poder do criminoso. Além disso, seus soldados do tráfico adotaram um uniforme inspirado no Exército de Israel, com fardamento verde-oliva.

O domínio do Complexo de Israel cresceu nos últimos anos. Inicialmente controlando as áreas de Vigário Geral e Parada de Lucas, Peixão expandiu seu território para Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau, comunidades onde vivem cerca de 134 mil pessoas. Em 2023, anexou também as favelas da Tinta e Dourados, em Cordovil. Fora da capital, ele dita ordens em pelo menos três áreas da Baixada Fluminense: Parque Paulista e Massapê, em Duque de Caxias, além de Buraco do Boi, em Nova Iguaçu.

O perfil violento do bandido é conhecido por suas atitudes. Ele costuma punir com a morte seus inimigos ou quem ousa contrariá-lo. Por conta disto, inclusive, teve a sétima prisão preventiva em seu nome pelo Tribunal de Justiça do Rio, no dia 8 de outubro de 2024. Ele foi acusado de mandar matar um traficante de sua própria quadrilha, em Vigário Geral, em 2022. O assassinato aconteceu porque a vítima teria furtado um celular de um morador da comunidade. O corpo do homem, no entanto, nunca foi localizado.