Sexta-feira, 23 de maio de 2025

Casa onde idoso estava morto há mais de seis meses tinha vidros escuros e janela fechada

Pano era usado para bloquear frestas de uma porta; testemunha diz ter presenciado discussão entre pai e filho por cartão bancário

23/05/2025 às 09h14 Igor Azeredo

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Pano era usado para bloquear frestas de uma porta; testemunha diz ter presenciado discussão entre pai e filho por cartão bancário / Foto: Marcos Nunes/Agência O GLOBO

A casa onde Dario Antônio Raffaele D'Ottávio, de 88 anos, foi encontrado morto em avançado processo de esqueletização, nesta quarta-feira, na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, estava com a janela fechada há mais de um ano e ainda ostentava vidros escuros que evitam a visão de fora para dentro. É o que relatou uma vizinha do idoso, nesta quinta-feira, pouco depois de prestar depoimento na 37ª DP (Ilha do Governador). Ao encontrar o corpo em cima de uma cama em um dos quartos, policiais verificaram que frestas de uma porta da residência estavam vedadas com panos para evitar que o cheiro da putrefação do cadáver fosse notado por quem mora próximo ao local.

Filhos de Dário, Marcelo Marchese D’Ottavio e a irmã Tania Conceição Marchese D’Ottavio moravam com o pai na residência onde o corpo foi encontrado. Nesta quinta-feira, uma testemunha ouvida pela polícia contou que, no fim de 2023, ouviu uma discussão entre pai e filho, quando este último teria exigido a senha e o cartão bancário do idoso, que acabou não sendo entregue. Já na quarta-feira, os dois irmãos teriam tentado evitar que os policiais entrassem na casa para cumprir um mandado de busca e apreensão. A ordem judicial foi expedida após os agentes serem acionados pelo serviço social do município que recebeu denúncias de maus tratos ao idoso.

Segundo relatos de vizinhos, ele não era mais visto há mais de um ano. Marcelo chegou a lutar com um policial. Ele a irmã foram presos em flagrante por crimes de ocultação de cadáver, resistência e lesão corporal. Segundo a polícia, logo após serem presos, os irmãos foram medicados com tranquilizantes e estão internados no Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador, por necessidade de atendimento psiquiátrico. O delegado Felipe Santoro, da 37ªDP, disse ter representando à Justiça pela conversão do flagrante em prisão preventiva. A previsão é a de que o caso seja analisado por um juiz, nesta sexta-feira, durante uma audiência de custódia, em Benfica, na Zona Norte do Rio.

— Representei pela prisão preventiva dos dois. Em liberdade, eles poderiam intimidar testemunhas e atrapalhar as investigações— disse Santoro.

Segundo vizinhos, Dario era pessoa muito querida no bairro. Ele costumava abrir uma garagem e passar um tempo no portão. Já Marcelo teria surtos frequentes.

— Havia muita gritaria na casa. O Marcelo gritava e xingava muito palavrão e sempre tinha surtos. Via sempre o seu Dário no quintal, mas do fim de 2023 para cá, não o vi mais. As janelas da casa ficavam sempre lacradas, fica tudo fechado. O vidro também é escuro. A polícia começou a investigar e encontrou o corpo dentro da casa — contou uma vizinha.

Segundo o delegado Felipe Santoro, por conta do estado do corpo, a estimativa é a de que a morte do idoso tenha acontecido há mais de seis meses. A polícia trabalha com duas hipóteses para o caso. Uma delas é a de morte natural seguida de ocultação de cadáver por conta de transtornos psiquiátricos.

— Uma hipótese é a de que tenham mantido o corpo do idoso na casa para recebimento de eventuais valores que ele supostamente teria direito. A outra linha é a de que, por razão de um transtorno psiquiátrico, eles (filhos) não aceitassem a morte do pai, e que por isso, não queriam se desfazer do corpo. Vamos analisar as causas da morte, determinar o exato momento em que isso aconteceu e também verificar se houve homicídio ou se decorreu de um estado mórbido ou uma doença. O que se sabe por enquanto é que há pelo menos seis meses esse corpo já estava no interior da residência, mas não sabemos o que fez esses irmãos o deixarem assim — disse o delegado.

Nesta quinta-feira, a polícia ouviu três testemunhas. Segundo o delegado, o resultado de um exame cadavérico pode apontar ou não, dependendo de como está o estado do corpo, a causa da morte do idoso. Felipe Santoro disse ainda ter enviado um ofício ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para saber se Dário recebia algum benefício. O documento também solicita, em caso de confirmação, informação sobre as datas dos últimos pagamentos recebidos. Além disto, os policiais vão checar ainda se a vítima tinha conta bancária e se houve alguma movimentação nos últimos 12 meses.

O delegado também representou à Justiça pedindo autorização para que os dois irmãos sejam submetidos a exame médico-legal de sanidade mental. O pedido foi feito após Santoro ter tido contato com os dois. Na ocasião ele teria percebido que ambos pareciam não estar gozando de inteira integridade mental.

A Polícia Civil chegou até o corpo após denúncias de vizinhos, que sentiram falta do idoso, nascido na Itália e popular nas redondezas. Alguns relataram que a vítima não era vista há dois anos. A data provável da morte ainda será determinada pela perícia. O corpo, de acordo com os policiais, foi mantido em um cômodo no quarto pavimento do imóvel, para ficar o mais afastado possível das casas vizinhas.

Durante a ação desta quarta-feira, os policiais encontraram bens aparentemente novos, o que levou à suspeita de que os irmãos poderiam se beneficiar financeiramente do pai. A versão ainda é investigada pela 37ªDP.

Fonte: Extra

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