Uma rota que liga os Estados Unidos às favelas do Rio abastece a guerra sustentada por facções criminosas com armas de fabricação americana. Segundo a Polícia Militar, 60% dos fuzis apreendidos pela corporação no estado este ano vieram dos EUA. As investigações indicam que a maior parte desse armamento entra no país pelas fronteiras com o Paraguai e a Bolívia, e segue por rodovias até o Rio. A polícia aponta que o tráfico conta hoje com dezenas de atravessadores para montar seus arsenais, numa estratégia para driblar a vigilância das autoridades.
A conexão que abastece o tráfico do Rio já despertou a atenção do governo americano. Na Operação Contenção, que apreendeu na última terça-feira 240 armas e mais de 43 mil balas em quatro estados — incluindo uma mansão na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio —, houve a colaboração de integrantes do Homeland Security Investigations (HSI), unidade do Department of Homeland Security (DHS). O HSI investiga crime e ameaças transnacionais aos Estados Unidos.
Uma prova dessa diversificação no fornecimento de armamento é a prisão, na operação, de Eduardo Bazzana, dono de duas lojas de armas no estado de São Paulo e presidente de um clube de tiro. Ele é suspeito de negociar a venda de armas e munição com Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Zeus Muzema ou Da Roça, acusado de tráfico em Rondônia, que passou meses refugiado no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Hoje, Da Roça comanda a Muzema, favela da Zona Oeste, que foi tomada de milicianos pelo Comando Vermelho recentemente.
A Polícia Civil do Rio já detectou outra estratégia adotada pelo tráfico para facilitar esse contrabando de armas: as facções manteriam espécies de “emissários” em países vizinhos ao Brasil para comprar as armas e drogas sem intermediários.
— No momento, não há ninguém majoritariamente operando um sistema refinado (de tráfico de armas). Há muita gente fazendo isso. Há, por exemplo, gente da própria facção instalada no Paraguai e na Bolívia, para tentar trazer as armas para o Rio sem intermediários — afirma o delegado Carlos Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil.
Uma das grandes operações recentes que mirou no tráfico de armas para o Rio revelou um esquema bilionário comandado por Josias João do Nascimento, policial federal aposentado. A Polícia Federal descobriu que ele era o chefe de Frederick Barbieri, conhecido como Senhor das Armas, apontado como um dos responsáveis pelo envio de avião de 60 fuzis de Miami para o Rio, em 2017. O arsenal foi apreendido no Aeroporto do Galeão.
Josias operou por quase uma década o tráfico de armas — majoritariamente de fuzis AK-47 e AR-10. O armamento era comprado nos Estados Unidos, desmontado em Orlando, na Flórida, e enviado ao Brasil camuflado em cargas de motores, aquecedores de piscina e aparelhos de ar condicionado. A venda das armas gerava lucros milionários, que eram lavados por meio de empresas ligadas ao ex-policial federal.
A identificação da origem das armas apreendidas pela PM na terça-feira mostra que a rota americana continua ativa. Entre o dia 1º de janeiro e anteontem (13 de maio), foram apreendidos no estado 254 fuzis. O ranking do armamento apreendido nas mãos de criminosos é liderado pela fábrica americana Colt, com 144 armas.
O governador Cláudio Castro, que está nos Estados Unidos para viabilizar parcerias que auxiliem no combate ao tráfico de drogas e de armas, confirmou os dados da PM. Segundo ele, a maioria dos 732 fuzis apreendidos em 2024 por todas as forças de segurança no estado é de fabricação americana. Ele lembrou que essas armas entram no Brasil pelas fronteiras com Paraguai, Bolívia e Colômbia.
A declaração foi dada durante um encontro com representantes do Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, em Nova York, quando Castro sugeriu a cooperação da instituição americana para evitar o tráfico de armas e a consequente chegada dos fuzis ao Rio.
— O Rio de Janeiro não produz armamentos. Um outro dado preocupante é a venda de peças, para montagem de armas, e de munição. Por isso, viemos em busca de ajuda para dialogar com as fábricas e impedir que sejam vendidas para países onde não há controle na comercialização — ressaltou o governador.
Só os 16 fuzis apreendidos anteontem numa casa de luxo na Barra estão avaliados em mais de R$ 1 milhão no mercado clandestino. Cada arma deste tipo, dependendo do estado de conservação e do número de carregadores, é comprada por traficantes do Rio por preços que variam de R$ 70 mil a R$ 100 mil. Uma planilha com a contabilidade da quadrilha de Da Roça, chefe do tráfico da Muzema, mostra os elevados gastos da quadrilha: em apenas um ano, eles fizeram a compra de mais de R$ 5 milhões em material bélico e drogas.
É nessa lista que aparece o nome de Eduardo Bazzana, dono de duas empresas de comércio de artigos esportivos — entre eles, armas e munições — registradas em cidades paulistas. O empresário, que também é presidente de um clube de tiro, foi preso na terça-feira, na cidade de Americana, na Região Metropolitana de Campinas.
Os policiais encontraram anotações com o nome do empresário apresentado como “fornecedor” e indicando a compra de itens como “pente AR10, pente AR15, munição AK47, munição 223 e munição 762”. O arquivo interceptado pela investigação mostra que o empresário teria recebido R$ 1,6 milhão num período de apenas 40 dias pela venda dos carregadores e da munição aos criminosos. Para tentar fugir dos órgãos de controle, depósitos foram feitos pelos traficantes de forma fracionada via Pix.
Outro empresário que entrou na mira da Polícia Civil do Rio foi Jhonnatha Schimitd Yanowich, preso por lavagem de dinheiro. Ele será ainda investigado por associação para o tráfico porque os 16 fuzis foram apreendidos em sua casa. A suspeita dos policiais é de que ele usava duas empresas de fachada com sede em Belo Horizonte para lavar o dinheiro obtido de forma ilícita. As empresas — uma de comércio de produtos de informática, e outra do ramo da construção civil — não tinham funcionários registrados e constavam com o mesmo endereço, que aparecia incompleto no cadastro.
Chamaram a atenção ainda dos investigadores os relatos de operadores bancários que suspeitaram de depósitos em contas de Yanowich de notas com “aspecto mofado, sujo, empoeirado, a ponto de a máquina contadora de cédulas recusar algumas” delas. Segundo os policiais, isso pode indicar que o dinheiro teria ficado enterrado, prática considerada comum para esconder recursos arrecadados por organizações criminosas envolvidas com tráfico de drogas. A investigação aponta que um laranja de Yanowich fez depósitos em conta de Bazzana.
A defesa de Bazzana informou que ainda não teve acesso à íntegra do inquérito. O advogado Rogério Duarte disse que seu cliente tem 68 anos e “nunca esteve envolvido com facção, seja ela qual for”, e que “no final do processo vai ficar provada a inocência dele”. A defesa entende ainda que a “prisão preventiva (...) foi decretada de forma ilegal, porque os requisitos, objetivos e subjetivos” não foram cumpridos. A defesa dos outros citados não foi localizada.
O ex-zagueiro Lúcio, capitão da seleção brasileira e pentacampeão mundial em 2002, foi internado nesta quinta-feira em Brasília após sofrer um acidente doméstico que causou queimaduras pelo corpo. O ex-jogador...
A pedagoga Jeniffer Aparecida Amaral Souza de Oliveira e o consultor financeiro Julio Cesar Soares de Oliveira sempre sonharam em ter filhos. Após passarem anos tentando engravidar, eles decidiram entrar...
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) recebeu oficialmente o pedido de tombamento do túmulo de João Francisco dos Santos, o icônico Madame Satã, localizado no Cemitério da...
A China, a União Europeia (UE) e a Argentina suspenderam, nesta sexta-feira (16), as importações da carne de frango brasileira, inicialmente por 60 dias. A medida foi tomada após o...
O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ednaldo Rodrigues pediu nesta sexta-feira (16) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão das eleições convocadas para eleger o novo comandante da entidade. Mais cedo,...
Aviso importante: a reprodução total ou parcial de qualquer conteúdo (textos, imagens, infográficos, arquivos em flash etc) do Portal Ururau não é permitida sem autorização e os devidos créditos e, caso se configure, poderá ser objeto de denúncia tanto nos mecanismo de busca quanto na esfera judicial. Se você possui um blog ou site e deseja estabelecer uma parceria com o Portal Ururau para reproduzir nosso conteúdo, entre em contato através do email: comercial@ururau.com.br