O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu colocar na pauta da próxima terça-feira, 4 de novembro, o julgamento que pode deixar inelegíveis o governador Cláudio Castro (PL) e o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil). A decisão de pautar o caso agora, em meio a uma das maiores crises políticas e de segurança do estado, soou nos bastidores como uma espécie de resposta institucional, ou, para alguns, retaliação velada, ao comportamento do governo fluminense diante das recentes polêmicas, especialmente depois da megaoperação policial que, embora criticada por setores do governo federal, aproximou parte do eleitorado de Castro.
O processo, que investiga abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022, estava engavetado desde que o TRE-RJ absolveu os dois, mas foi ressuscitado após recurso do Ministério Público Eleitoral. A relatoria está nas mãos da ministra Isabel Gallotti, que deixará o TSE no fim de novembro, o que ajuda a explicar a pressa no julgamento.
A acusação envolve o escândalo do Ceperj, em que funcionários teriam sido contratados com dinheiro público para atuar como cabos eleitorais. Caso Castro e Bacellar sejam cassados, o Rio de Janeiro mergulhará em novo capítulo de instabilidade. Quem assume o governo é o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Ricardo Couto de Castro, até que sejam convocadas eleições suplementares.
O detalhe é que o timing do julgamento não passou despercebido. O TSE marca a análise justamente após uma megaoperação policial no estado, considerada a mais letal da história do país, deixar ao menos 119 mortos e reacender críticas à política de segurança de Castro e às omissões do governo federal. Em Brasília, a leitura é que a Corte quer “dar uma resposta” ao cenário de caos e descontrole no Rio, mostrando que o poder político local não está imune à Justiça.
Castro, por sua vez, reagiu afirmando ter “total confiança na Justiça Eleitoral” e lembrando que o TRE já havia julgado improcedentes as acusações por falta de provas. Bacellar, que segue articulando nos bastidores, também nega qualquer irregularidade.
Se condenados, ambos ficam fora das eleições de 2026, o que muda todo o tabuleiro político fluminense. O prefeito Eduardo Paes, por exemplo, passaria a nadar sozinho em um mar de adversários desorganizados, enquanto nomes como Flávio Bolsonaro (PL) observam à distância, avaliando o momento certo de avançar.
Mas o fato é que, independentemente do resultado, o gesto do TSE tem peso político. Em meio a crises, operações e escândalos, o tribunal decide agir. E o Rio, mais uma vez, vira palco de um julgamento que mistura Justiça, poder e retaliação em doses iguais.