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Com a vinda da Petrobras, Macaé perdeu a paz. A relação entre crime e política no município, embora hoje mais visível, tem raízes profundas na própria história da cidade.
A cidade de Macaé sempre foi berço de casos complexos envolvendo crime e poder. O primeiro grande episódio remonta a 6 de março de 1855, quando foi enforcado em praça pública o proprietário rural Manuel da Motta Coqueiro, também conhecido como a Fera de Macabu. Coqueiro foi condenado à morte por supostamente mandar assassinar uma família de meeiros.
O caso entrou para a história como um dos maiores erros judiciais do Brasil Imperial, levando o imperador Dom Pedro II a suspender a pena capital no país. O próprio Dom Pedro II foi testemunha de casamento do Conde de Araruama, dono da Usina de Quissamã, usina que à época foi concedida pelo imperador.
A Petrobras chegou a Macaé no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. O prefeito da época era Alcides Ramos, conhecido como Bicho Velho, que governou Macaé por três mandatos. Sua base eleitoral estava fortemente ligada ao município de Quissamã, então um colégio eleitoral decisivo. Pode-se dizer que Macaé começava em Quissamã.
Apesar do crescimento econômico, a cidade ainda era tranquila no fim dos anos 1970. Era possível andar a pé ou de bicicleta sem medo. Quem possuía uma Monareta, bicicleta famosa da época, já conseguia impressionar e até arrumar uma namorada.
A vida social girava em torno do Cine Taboada, do Cine Clube, dos bailes no Fluminense e no Ypiranga. As bandas The Hals e L Bossa se revezavam nos clubes, com reforço do grupo Guri Som: "A gente era feliz e não sabia, pensava só em festa todo dia". Nos períodos festivos. Havia pouco dinheiro, mas muita felicidade e paz. O licor de pêssego da Fábrica Lince, conhecido mundialmente, e o lanche no Zé Mengão, na Rua Direita, faziam parte do cotidiano.
Entre as décadas de 1980 e 1990, Macaé viveu um de seus episódios mais graves. Um confronto armado envolvendo dois juízes da cidade, a juíza Eliane de Souza Alfradique e o juiz Júlio César Springer de Aboim Pitanga, foi decidido na bala, em meio à atuação de dois grupos de extermínio rivais que disputavam comunidades palmo a palmo.
O saldo foi de três mortos e quatro feridos. Pitanga chegou a pegar em armas. Tanto ele quanto Eliane Alfradique foram condenados pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Pitanga recebeu pena de sete anos de reclusão, em regime semiaberto, à época. O caso foi um escândalo de grandes proporções.
Pitanga alegou que sofria ameaças de um grupo de extermínio que teria ligação com a juíza. Segundo ele, esse grupo ameaçava promotores e juízes e extorquia clientes de advogados. Até hoje, para quem conhecia os bastidores, Pitanga é tratado como mocinho.
Com a Petrobras, chegou muito dinheiro de fora. Como dizia o Barão de Itararé, onde há dinheiro, o diabo está por perto. Essa digressão histórica é necessária para entender a atual situação da cidade, agora sob a atuação direta da Polícia Federal no combate ao crime organizado.
No dia 2 de dezembro, a Polícia Federal de Macaé deflagrou uma operação que lançou luz sobre uma questão sensível no Estado do Rio de Janeiro, a possível intervenção de agentes públicos ligados a grupos de narcomilícias e ao crime organizado.
Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão, sendo 16 em Macaé e cinco no Estado da Paraíba. Os alvos incluem empresários, políticos e servidores públicos apontados como articuladores do esquema.
Na operação foi preso Hércules da Mata Araújo, CAC, com armamento e munição de uso restrito, inclusive munição para fuzil. Ele encontra-se preso em Campos, à disposição do juiz da Vara Criminal de Macaé. Segundo a Polícia Federal, Hércules integra um grupo de milicianos que atua em diversos bairros da periferia de Macaé. Também foi apreendida uma caminhonete Hilux registrada em nome de terceiros.
As investigações indicam que o grupo contava com funcionários públicos da Prefeitura de Macaé e da Câmara Municipal.
A senhora Pollyanna Dutra é apontada como o elo entre os supostos milicianos e a política partidária local. Segundo a Polícia Federal, Hércules participa de empresas que comercializam gás de cozinha e atuam na área ambiental. O fornecimento de gás no Lagomar e na Nova Holanda estaria ligado a ele.
Há também empresas de exploração de internet. Em uma delas, Hércules é sócio de Ednaldo Diomedes da Silva, que aparece em redes sociais ao lado do prefeito Welberth Rezende. Segundo a Polícia Federal, existem inúmeras pessoas jurídicas criadas com o objetivo de confundir as investigações, muitas com vínculos diretos com o município.
Essas empresas seriam prestadoras de serviços comunitários contratadas pela prefeitura, assim como Pollyanna Dutra, também investigada.
Pollyanna teria sido casada com o pai de Rogério Mosqueira, conhecido como Roupinol, morto em confronto com a polícia em 2010. Em 2016, Pollyanna recebeu o Diploma de Mérito Municipal.
Segundo a Polícia Federal, ela indicava cargos na prefeitura e participava financeiramente dessas nomeações. Também teria sido nomeada pelo presidente da Câmara Municipal, Nilton César Pereira Moreira, conhecido como Cezinha. Este, por sua vez, teria apresentado rápida ascensão econômica, passando de funcionário do Posto Tic Tac, em Macaé, a produtor rural em Triunfo, Santa Maria Madalena, com criação de gado de corte e produção de leite.
A Polícia Federal entende que houve infiltração de agentes criminosos no serviço público municipal, caracterizando uma milícia privada.
Pollyanna teria sido exonerada após a prisão de Rodrigo Ferreira, conhecido como Panela, apontado como relações públicas de um grupo criminoso. A confusão é grande e envolve nomes de peso.
As investigações indicam que o grupo criminoso teria apoiado de forma exclusiva a candidatura da vereadora Manu Rezende em 2024. Manu é sobrinha do prefeito Welberth Rezende e filha de Márcio Rezende, irmão do prefeito. Ela foi eleita com 3.206 votos.
Neste momento, não se discute o currículo da vereadora, mas o contexto. Segundo a Polícia Federal, houve privilégio exagerado em determinadas comunidades, caracterizando voto de cabresto. A ordem de apoio no Morro de São Jorge teria partido de um custodiado na Penitenciária Federal de Campo Grande. Manu foi apoiada por Pollyanna.
Márcio Rezende chegou a ser secretário municipal, mas foi exonerado em 2021 por recomendação do Ministério Público, com base em entendimento do Supremo Tribunal Federal. Ainda segundo as investigações, Márcio teria adquirido, em 2016, uma propriedade em Santa Maria Madalena pelo valor de seis milhões de reais, pagos à vista.
A Polícia Federal aponta movimentações financeiras que somam centenas de milhões de reais. A investigação apura corrupção eleitoral, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O nome da operação faz referência direta ao voto de cabresto.
O prefeito Welberth Rezende nasceu em 1975, exatamente no período da chegada da Petrobras a Macaé. O dado é simbólico. A cidade cresceu, enriqueceu, mas perdeu algo essencial.
O povo pode até ter dinheiro, mas não tem liberdade plena para usá-lo, nem para votar. Falta a paz da época do prefeito Bicho Velho, de Quissamã.
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