O arroz passa por um bom momento de comercialização no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional do grão. As perdas com a estiagem são pontuais e o trabalho é intenso em toda a cadeia produtiva, desde as lavouras, passando pela logística de transporte e armazenamento até a indústria. Segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), a colheita da safra atual alcançou os 60% até dia 3 de abril. A saca de 50 kg de arroz em casca está valorizada, sendo comercializada ao preço médio de R$ 52,09, em 4 de abril, conforme o indicador de preços do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/RS).
Mas essa realidade corre o risco de uma mudança importante. “Quando o arroz que está sendo colhido estiver pronto para ir ao varejo, em dois ou três meses, esse mercado superaquecido pode sofrer um revés”, alerta o analista de mercado Cleiton Evandro dos Santos. “Ainda que tenhamos um preço nas alturas neste momento, quando voltarmos a uma normalidade a procura pode ser menor porque em março/abril por medo de desabastecimento devido à pandemia do coronavirus, os consumidores foram mais ávidos às compras e os supermercados adquiriram o equivalente a dois meses e meio de consumo em 20 dias. Pode ser mais grave se isso ocorrer no curto prazo. Se o país começar a voltar à normalidade corremos o risco de ter varejo e consumidor abastecidos. A indústria, abastecida pelo produto a depósito e do financiamento via Cédula de Produto Rural (CPR´s) vai vender pra quem? Ela terá interesse de comprar?”, questiona. “O valor pago ao produtor pode cair consideravelmente a partir daí, então talvez o teto do preço de 2020 ocorra agora no primeiro semestre”, explica.
Tradicionalmente, a precificação ao produtor é menor nos primeiros meses do ano, com o excesso de oferta, e reage no segundo semestre, quando o mercado procura se reabastecer. 2020 está sendo um ano atípico devido a essa antecipação do consumo, segundo o analista. A alta do momento, também se explica porque nos dois últimos anos as áreas de plantio foram reduzidas e a produção também. “Ainda assim, o custo médio vinha sobrepondo o valor médio das cotações, em torno de R$ 40,00 em 2018 e R$ 43,00, em 2019. Todas as perdas vinham sendo absorvidas pelo produtor. Por isso, a expectativa era de que 2020 seria um ano de recuperação, o que felizmente vem ocorrendo”, comemora o especialista.
Até o momento, levantamentos mostram que a produtividade observada é de 8.670 kg/ha no Rio Grande do Sul. O índice, bem acima da média, se deve ao avanço da colheita na fronteira Oeste, maior região produtora do estado. A previsão é de que a colheita 2019/2020 em todo o Rio Grande do Sul alcance 7,3 milhões de toneladas, com produtividade final pouco superior a 7.500 kg/ha. A recomendação ao produtor é que se organize e já comece a planejar a próxima safra. “Depois de dois anos com redução de área plantada, como o preço está bom a tendência é o produtor se empolgar e aumentar a extensão das lavouras. Mas não é hora de plantar mais, o que se deve é plantar melhor, aumentando a produtividade".
Para isso, o foco deve estar no preparo antecipado, na observação das recomendações de manejo e na qualidade das sementes e dos insumos. “Cada produtor tem uma realidade e deve estar ciente disso, mas em geral, quem se programar e antecipar as compras para o período entre maio e julho, quando os preços são mais atraentes, tende a ter custos menores na próxima lavoura, em que pese ainda termos a influência do dólar valorizado. Manter-se informado e fazer boas escolhas é fundamental nesse momento”, finaliza o especialista.
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