Os surtos do sarampo em algumas cidades brasileiras levantam a dúvida: afinal, os adultos também devem tomar a vacina? Bem, teoricamente qualquer indivíduo que foi vacinado a partir do primeiro ano de vida no esquema de duas doses com intervalo mínimo de 30 dias entre elas não precisa de uma nova injeção.
Só que nem todo mundo foi imunizado assim no passado. “A vacina contra o sarampo está disponível desde a década de 1970 na rede pública, mas era aplicada aos 9 meses de idade. E, hoje, essa dose não entra na conta por ser menos efetiva”, comenta o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Ou seja, com exceção de quem possui comprovação de que se protegeu adequadamente, o indicado é voltar ao posto de saúde para um reforço da dose. “Como boa parte das pessoas não possui mais a carteirinha de vacinação, o ideal seria vacinar novamente”, aponta o médico.
Outro ponto importante: os brasileiros que já foram infectados com o vírus do sarampo não precisam tomar a vacina, porque a imunidade decorrente da invasão persiste para o resto da vida. A questão é que essa doença pode ser confundida com outras em virtude de sintomas similares.
Ou seja, como saber de fato que você teve sarampo e não outro problema, como a catapora? Um exame de sangue pode responder essa pergunta. No entanto, se estiver na dúvida, a vacina é indicada.
Como os adultos devem tomar a vacina do sarampo
Pessoas com até 29 anos podem tomar a versão tríplice viral (que protege ainda contra caxumba e rubéola) nos postos da rede pública de saúde de todo o país em duas doses, com intervalo mínimo de 30 dias entre elas.
Dos 30 aos 49 anos, ela é aplicada em uma dose, exceto para profissionais de saúde, que devem receber as picadas duas vezes.
Em São Paulo, há atualmente uma campanha que foca em jovens dos 15 aos 29 anos – o público mais atingido pelos surtos de 2019. A iniciativa começou na capital e será estendida para cinco municípios da Grande São Paulo onde o vírus circula atualmente: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Guarulhos e Osasco.
A adesão dos paulistanos tem sido baixa. A meta no início da campanha era proteger 2,9 milhões de indivíduos. O balanço mais recente mostra que só 47 mil se vacinaram.
E, apesar das campanhas, cabe ressaltar que a vacina está sempre disponível para o público-alvo determinado pelo Ministério da Saúde.
A vacina contra o sarampo é eficaz?
“A dose única tem eficácia de 90 a 95% na proteção contra a doença, enquanto a dupla fica entre 95 e 98%”, destaca Cunha. Ou seja, tomar as duas injeções minimiza o risco de falha vacinal – quando o organismo não produz anticorpos contra a enfermidade mesmo após a vacinação.
Agora, para que um sujeito esteja relativamente protegido mesmo em caso de falha vacinal – incluindo aqui as crianças pequenas, que têm maior risco de complicações pelo sarampo – é preciso que a cobertura vacinal da população esteja sempre acima de 95%. Nessa situação, tantas pessoas estão protegidas que o vírus simplesmente não consegue circular até achar os poucos sujeitos suscetíveis ao seu ataque.
Infelizmente, em 2018 só Pernambuco atingiu essa meta no Brasil. Não à toa, os surtos retornaram e perdemos o certificado de eliminação da doença.
Quem não deve tomar a vacina?
Como a vacina é feita com o vírus vivo atenuado (ele está muito enfraquecido, porém segue vivo), gestantes e indivíduos com a imunidade comprometida são contraindicados. O mesmo vale para portadores de HIV sintomáticos e usuários frequentes de medicamentos que suprimem a ação do sistema imune (corticoides, quimioterápicos…), entre outros.
Já os alérgicos a ovo podem, sim, ser imunizados. Isso porque mesmo quem desenvolve reações graves ao alimento só muito raramente vai sofrer com efeitos colaterais significativos, segundo a Sbim.
Pessoas com quadros passageiros, como gripe ou dengue, podem tomar, desde que não estejam na fase aguda da doença, com febre alta e mal-estar intensos.
Precisa mesmo tomar a vacina?
Sim. O sarampo é uma doença altamente contagiosa, que pode matar. Ela era muito frequente até o início dos anos 1990 no Brasil.
Após anos de controle, a encrenca voltou com força em 2018, contabilizando cerca de 10 mil casos e 12 mortes confirmadas. A região Norte foi a mais atingida na ocasião, mas em 2019 há surtos em todo o país.
Desde janeiro, 142 casos de sarampo foram confirmados no último boletim sobre o assunto do Ministério da Saúde, de 28 de junho. São Paulo, Pará e Rio de Janeiro lideram a lista. Não há registros de óbitos até o momento, mas os próximos boletins nacionais devem trazer números maiores – a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo avisa que até 10 de julho foram 111 episódios confirmados só no estado.
Embora na maioria das vezes a infecção cause apenas um incômodo passageiro, pode trazer complicações importantes. “Principalmente na parte respiratória, com pneumonia, e problemas gastrointestinais, como a diarreia”, alerta Juarez.
Para quem vai viajar para regiões onde o sarampo está circulando com maior intensidade, como Estados Unidos, Venezuela, Ucrânia, Israel, Índia e Filipinas, a proteção é ainda mais importante. Afinal, há registros de surtos brasileiros provocados por versões importadas do vírus.
“Nesse caso, é melhor fazer a primeira dose com antecedência, para evitar o risco de reações adversas ocorrerem durante a viagem, como a febre”, ensina Cunha.
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