Várias pesquisas já estabeleceram uma conexão entre a perda do olfato e o novo coronavírus.
"Em nosso estudo, que foi realizado em 15 hospitais em toda a Espanha, de 989 pacientes com Covid-19, 53% tiveram alteração no olfato", diz Adriana Izquierdo Domínguez, alergista do Centro Médico Teknón em Barcelona e integrante da Sociedade Espanhola de Otorrinolaringologia (SEORL).
Mas o novo coronavírus é apenas o mais recente em uma longa lista de possíveis causas.
Saulo Segreto faz o tratamento há mais de quatro meses. "Depois de perder meu olfato, sinto como se uma barreira invisível me separasse da realidade."
Patricia Portillo Mazal, otorrinolaringologista e especialista em olfato e paladar do Hospital Italiano de Buenos Aires, explica que "uma das causas mais frequentes de perda do olfato são as infecções virais, como resfriados e gripes".
Outra origem comum são os golpes na cabeça ou no rosto que danificam alguma parte do sistema olfativo, acrescenta.
Às vezes, o motivo da perda do olfato não é identificado, que também pode apresentar graus diferentes.
A perda do olfato pode afetar profundamente o bem-estar de uma pessoa, a exemplo do que aconteceu com Chrissi Kelly, criadora do AbScent.
Kelly, que nasceu nos Estados Unidos e mora na Inglaterra, perdeu o olfato devido a uma infecção viral em 2012.
"Entre seis e nove meses depois, caí em depressão profunda", diz ela à BBC Mundo.
Não se sabe desde quando a técnica de treinamento olfativo já existe, mas clinicamente ela tem sido usada há cerca de uma década.
A reabilitação consiste basicamente em inalar diferentes odores, concentrando a mente, pelo menos duas vezes ao dia.
"Tem que ser todos os dias, e são inalações curtas, mais ou menos de 20 segundos", explica Portillo Mazal.
Geralmente, quatro frascos com cheiros diferentes são usados em cada exercício.
Os quatro aromas usados por Hummel em seus primeiros estudos foram rosa, limão, cravo e eucalipto, mas outras substâncias podem ser usadas.
Portillo Mazal faz com que seus pacientes preparem seus próprios kits.
"Tenho duas variantes. Uma é com óleos, que podem ser de frutas, flores, hortelã-pimenta, ou coisas como lavanda, tomilho ou cravo. Os pacientes põem cerca de 40 gotas em um algodão ou em um pedaço de papel, repetindo o procedimento de vez em quando".
"A outra opção é um kit com as coisas da casa: mando meus pacientes prepararem potes com café, sabão em pó, orégano ou chocolate picado, por exemplo."
Um aspecto fundamental do treinamento é fazer os exercícios com grande foco.
"Você tem que estar completamente focado naquele minuto e meio de exercícios, sem pensar no que você tem que fazer naquele dia", diz Portillo Mazal.
Chrissi Kelly também recomenda evocar memórias.
"Ao abrir a garrafa com óleo de limão, mesmo que não sinta cheiro algum, feche os olhos e lembre-se de todos os detalhes de quando cheirou ou comeu um limão."
"E você deve estar atento a qualquer mensagem olfativa que perceber , mesmo que não seja a esperada."
"Em geral, cerca de 60% das pessoas que perdem o olfato o recuperam até certo ponto", diz Thomas Hummel à BBC News Mundo.
"E o que nossos estudos mostram de forma convincente é que com o treinamento olfativo a taxa de recuperação dobra. Ou seja, as pessoas se recuperam de forma mais rápida e completa", acrescenta.
Mas como explicar que inalar algo sem sentir seu odor pode ajudar a recuperar o olfato?
Para entender o motivo, a primeira coisa a lembrar é que o sistema olfativo engloba uma série de órgãos, inclusive o cérebro.
"Na parte interna superior do nariz, estão as primeiras células que captam informações, os chamados neurônios receptores olfativos", explica Portillo Mazal.
"A viagem começa aí, e dessa célula a informação vai para o cérebro, onde a primeira parada é o bulbo olfatório, um centro pequeno, mas de transmissão e comando."
"Dali a informação segue para o resto do cérebro. Uma primeira parada é o cérebro mais primitivo, o das emoções. Outra é na área que permite identificar ou discriminar um cheiro do outro".
"E também vai para uma zona de memória emocional de longo prazo, que é o que faz você sentir o cheiro de um chocolate e se lembrar daquela primeira vez com sua avó."
Uma das chaves que explicam a eficácia da reabilitação é que o sistema olfativo tem uma capacidade extraordinária de regeneração.
"Uma característica do olfato que não vemos em outros sentidos é sua plasticidade", explica Hummel à BBC Mundo.
"Os neurônios receptores olfatórios estão em constante regeneração".
Junto com esses neurônios receptores, existem também dois tipos de células.
"As células de suporte ajudam os neurônios a funcionar corretamente", diz Portillo Mazal.
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