O fisiculturista colombiano Rubiel Mosquera é famoso por ter o pescoço mais largo e musculoso do mundo. Em uma postagem no Instagram em que aparece medindo a região cervical com uma fita métrica, o atleta lançou um desafio para seus seguidores tentarem acertar a medida. Ao ampliar a foto, é possível perceber que seu pescoço mede cerca de 51 cm de circunferência. Nas redes sociais de Mosquera, que foi apelidado de Neckzilla (junção de "neck", que significa pescoço em inglês, e Godzilla, monstro gigante de filmes japoneses), é comum comentários de seguidores interessados em saber como fazer para ter um pescoço tão grosso.

Mas, afinal, pescoço grosso demais é bom para algo? Oferece benefícios? Até que ponto é saudável e a partir de que ponto deixa de ser? Para nos ajudar a responder essas perguntas, o EU Atleta conversou com o médico ortopedista Fernando Sanchez e o fisiologista do exercício Yago Medeiros. Acompanhe!

Perigos

Os músculos localizados na região do pescoço têm como função principal garantir a estabilização da cabeça e a manutenção do olhar na linha do horizonte. Segundo Sanchez, um pescoço robusto pode ter, sim, vantagens. Mas há limites.

Pescoços com mais de 39 cm de circunferência, em homens, ou 34 cm, em mulheres, podem ter impacto na saúde. Em estudo publicado em 2020, foi avaliada uma média de circunferência de pescoço de 39,5 cm nos homens e 34 cm nas mulheres. E o aumento de 1 cm na circunferência de pescoço foi associado ao incremento de 3% e 5% na média aritmética do risco de doença cardiovascular em homens e mulheres, respectivamente.

"Neste estudo foi identificada uma associação positiva entre o aumento da circunferência de pescoço e o risco cardiovascular em 10 anos, independentemente de medidas de adiposidade (gordura) global e visceral. Esses achados sugerem que a circunferência de pescoço pode contribuir para estimar o risco cardiovascular para além das medidas antropométricas clássicas (IMC e circunferência da cintura)", conclui o estudo.

Além disso, se o aumento do volume muscular for exagerado e ocorrer sem a movimentação apropriada dessa região, é possível haver perda de mobilidade, reduzindo a amplitude dos movimentos realizados pela cabeça/pescoço. Um simples “olhar para trás” pode gerar dificuldades além do habitual.

— Caso o crescimento muscular comece a prejudicar a mobilidade, a flexibilidade ou a execução de atividades cotidianas, passou do ponto saudável. Uma hipertrofia excessiva pode causar desconforto, dificuldades de movimento e, em casos extremos, problemas respiratórios ou circulatórios — afirma Sanchez.

Há benefícios?

Dentro da normalidade, no entanto, um pescoço musculoso oferece estabilidade adicional à cabeça, o que é especialmente útil em esportes de contato ou que envolvem risco de impacto, como futebol americano ou boxe. Essa musculatura ajuda na prevenção de lesões e na absorção de choques.

— Adicionalmente, um pescoço bem desenvolvido apoia o equilíbrio corporal, sendo crucial em esportes que exigem força e estabilidade do tronco. Ele funciona como uma base sólida para toda a mecânica de movimento do corpo. Importante salientar que cada pessoa responde de maneira única a exercícios e estímulos, resultando em diferentes tipos de desenvolvimento muscular — comenta o médico ortopedista.

Segundo o médico, isso é relevante em atividades físicas com risco de movimentos bruscos ou impactos. Em esportes como fórmula 1, stock-car, motovelocidade e BMX, nos quais os atletas são submetidos a acelerações/desacelerações bruscas, a habilidade de manter a cabeça estabilizada é essencial. Desse modo, para praticantes dessas modalidades, a realização de exercícios específicos para os músculos dessa região é indispensável.

Como fortalecer e engrossar o pescoço?

Yago Medeiros explica que, ao intensificar o trabalho de qualquer musculatura, uma das consequências é a hipertrofia tecidual, criando percepção de que a região exercitada está mais “volumosa”. Alguns atletas de alto nível, de fato, apresentam “pescoços grossos”.

— No caso dos fisiculturistas, o maior volume dos músculos do pescoço também ocorre devido à intensificação de estímulos sobre essas musculaturas, porém, acredito que isso ocorra de forma involuntária. Ao realizarmos esforços repetitivos que exigem grande produção de força, principalmente com pesos livres e sem apoio na região das costas, é comum executarmos movimentos acessórios/involuntários da região da cabeça/pescoço — explica o fisiologista.

Para Medeiros, no momento em que ocorre a flexão dos cotovelos, é provável que o indivíduo também realize movimentos involuntários de anteriorização da cabeça e flexão do pescoço. Estando os fisiculturistas expostos a esse tipo de situação diariamente, o fisiologista acredita que a longo prazo é compreensível (e de certa forma esperado) eles apresentarem “pescoços grossos”.

Yago ainda explica que assim, como qualquer grupo muscular, a hipertrofia ocorre por meio de exercícios que geram resistência aos movimentos realizados por esses músculos. No caso do pescoço, essa resistência geralmente é feita por faixas elásticas.

— Por exemplo, é possível passar uma faixa elástica na região superior da cabeça e o indivíduo fazer movimentos inclinando o pescoço indo para o lado contrario da faixa. Porém, vale ressaltar que todo exercício deve ser realizado sob a orientação de um profissional para de evitar riscos e obter os benefícios esperados — adverte o fisiologista do exercício.

Fernando Sanchez ainda destaca ser essencial entender que cada indivíduo é único. Para atletas como Rubiel Mosquera, pode haver uma predisposição genética para um desenvolvimento muscular mais intenso, sem necessariamente envolver exercícios específicos para essa área.

O caso de Rubiel

Sanchez comenta que a condição de Rubiel Mosquera é notável e relativamente rara. Seu desenvolvimento muscular impressionante traz potenciais desafios de saúde caso ele precise de um procedimento na cervical e possíveis complicações na região devido ao volume muscular.

Além disso, o médico aponta que existe o risco de compressão de estruturas vitais no pescoço, como artérias, veias e nervos. Contudo, sem uma avaliação médica específica, não se pode fazer um diagnóstico definitivo ou afirmar a existência de problemas de saúde concretos. Em relação ao tamanho do pescoço de Mosquera, segundo Sanchez, não há necessariamente uma patologia associada. Cada corpo tem suas características. O acompanhamento médico e um treinamento responsável são fundamentais para garantir que o desenvolvimento físico seja realizado de forma saudável e segura.

— Ressalto a importância da individualidade biológica e da responsabilidade no treinamento físico. Cada pessoa possui seus limites de desenvolvimento muscular, que devem ser respeitados. O acompanhamento de profissionais capacitados em treinamento físico e saúde é vital. Interessante também é observar como diferentes esportes e atividades físicas resultam em distintos desenvolvimentos corporais. Um fisiculturista terá metas diferentes de um atleta de endurance, por exemplo. Priorizar a saúde, segurança e bem-estar na busca pelo desenvolvimento físico é essencial para uma prática esportiva sustentável e benéfica — conclui o médico.