O crédito é um recurso de pagamento que se bem utilizado pode viabilizar sonhos, ajudar na aquisição de um bem de consumo e até mesmo socorrer as pessoas em momentos de dificuldade. No entanto, é preciso ter planejamento financeiro para não assumir compromissos que o bolso não suporta. Um estudo realizado em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que no último mês de fevereiro, em cada dez consumidores, seis (59%) aproveitaram as facilidades do crédito para fazer compras não planejadas.
Nesse caso, as aquisições mais feitas por impulso foram roupas, calçados e acessórios (19%), compras em supermercados (17%), perfumes e cosméticos (14%) e idas a bares e restaurantes (13%). A aquisição de peças de vestuário e acessórios foi mais presente entre a parcela feminina de entrevistados (23%), ao passo que a compra de produtos eletrônicos ganhou destaque entre os homens (13%).
Os especialistas do SPC Brasil explicam que a democratização do crédito no Brasil, principalmente entre as classes menos favorecidas, é um fenômeno que ganhou força apenas recentemente, de modo que muitos consumidores ainda não aprenderam a lidar com as consequências do seu mau uso.
“A regra de bolso diz que o consumidor não deve comprometer mais do que 30% da própria renda com prestações. Dependendo da realidade financeira, essa porcentagem pode ser ainda menor em certos casos. Consumidores menos atentos podem ser iludidos pelos valores baixos das parcelas e pelos prazos a perder de vista. A falsa sensação de comprar sem pagar nada que o crédito proporciona tende a levar consumidores desinformados ao superendividamento e à inadimplência”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
O levantamento ainda descobriu que na opinião dos entrevistados, a internet é o canal de venda onde as opções de crédito mais levam os consumidores a parcelarem suas compras. Um terço (33%) dos consumidores acredita que as lojas online estimulam o consumidor a fazer novas compras ao oferecerem mais possibilidades de parcelamento. Outros tipos de estabelecimentos que os entrevistados sentem essa facilidade para dividir em várias vezes são as lojas de departamento (23%), supermercados (13%) e shopping center (12%).
Sobre o número de prestações em que dividem a compra, a pesquisa mostra que muitos consumidores não avaliam totalmente o impacto de uma compra a prazo no orçamento antes de se endividar. Em cada dez brasileiros que parcelam, um (15%) divide a compra no maior número possível de prestações, independentemente do valor. Outros 31% são mais prudentes e afirmam levar em consideração a alternativa com um número de parcelas que mais se encaixa a sua realidade financeira, enquanto 18% optam pela menor quantidade de prestações disponíveis.
Na hora de parcelar uma compra, o cartão de crédito ficou em primeiro lugar no ranking de preferência dos consumidores, com 66% de citações. O crediário vem em segundo, mas com apenas 13% de menções e o financiamento aparece logo depois com somente 4% de preferência. O cheque pré-datado foi citado por 1% dos entrevistados.
A pesquisa também mostra que mais da metade (53%) dos consumidores enfrentaram recentemente alguma situação em que o comerciante impôs dificuldades em aceitar certa modalidade de pagamento. Os meios que mais sofreram rejeição foram o crediário (33%) e o cheque pré-datado (29%). Há ainda 24% de entrevistados que não conseguiram comprar usando o cartão de crédito e 21% que tiveram insucesso ao tentar usar o cheque à vista. A recusa do estabelecimento em não aceitar determinada modalidade fez com que 31% desses consumidores desistissem da compra. Outros 29% recorreram ao pagamento à vista para levar o produto para casa.
9% sempre optam por parcelar uma compra. Dinheiro e cartão de débito são os meios de pagamento mais comuns para compras no dia a dia
Quando indagados sobre como preferem realizar a maior parte dos seus pagamentos, um em cada dez (9%) consumidores disse que sempre prefere parcelar, independentemente das condições. Há ainda 14% que optam pelo parcelamento se as parcelas não pesarem no bolso. Outros 41% sempre pagam à vista, enquanto 34% só pagam em dinheiro ou cartão de débito se houver algum desconto vantajoso.
Desse modo, o dinheiro em espécie e o cartão de débito são as formas de pagamento mais comuns utilizadas para compras no dia a dia. No caso do dinheiro, ele se destaca principalmente nos gastos com serviços de beleza (63%), remédios (47%), alimentação fora de casa ou delivery (45%) e compras no supermercado (44%). Já o débito ganha força entre os consumidores na alimentação fora de casa ou comida delivery (26%), compras de supermercados (23%) e remédios (22%).
O cartão de crédito, seja em uma ou várias parcelas, é a modalidade de pagamento a prazo mais citada pelos entrevistados, utilizado principalmente, para gastos na aquisição de eletrônicos (46%), compras de roupas, sapatos e acessórios (37%) e gastos com remédios (25%).
No último mês de fevereiro, 38% dos brasileiros realizaram alguma compra parcelada, sendo que na média, foram três compras a prazo por consumidor. Entre quem dividiu, a média de prestações está entre cinco e seis. Se considerados os três meses anteriores à pesquisa, no entanto, 58% dos consumidores têm evitado se endividar com crédito, especialmente no cartão de crédito parcelado (29%) e no crediário (16%).
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