Não devo me surpreender com qualquer tipo de atitude dos dirigentes do futebol do Rio de Janeiro que sabemos perfeitamente, que ao longo dos anos se notabilizaram em promover sandices, em forma de regulamento e imposições que contrariaram quase sempre qualquer um com a mínima capacidade de avaliar o mais simples dos temas relacionados ao futebol. Afirmo sem nenhum medo de errar, que os dirigentes do futebol carioca são reconhecidamente os maiores especialistas em promover aberrações.

Agora, com a pandemia, não poderiam ficar de fora, é lógico. Lançaram no início deste mês, de maio, o regulamento, grupos e a tabela da Série B, isso mesmo, da famigerada Segundona, que ganhou o apelido de Série B, e para a próxima temporada, ou seja, para 2021, com a previsão de novo apelido, passando a Série A2. Mas falando ainda de 2020, anunciaram, para o dia 15 de agosto o início do campeonato, mesmo que dependa da aprovação das autoridades da saúde. Parece aquelas histórias da época do Garrincha onde o treinador mandava ele driblar todos e ele perguntava se tinham tratado com o adversário.

Prefiro acreditar, e tenho dito isso abertamente, que mais me parece uma resposta da Federação para não parecer que cruzaram os braços esperando a pandemia cessar, e apontaram uma data para não dizer que nada fizeram. A questão central é ... se antes da pandemia, a competição se mostrava deficitária por diversos cenários, nós que acompanhamos essa competição ao longo de décadas sabemos disso, como podem agora querer dizer que os 17 clubes envolvidos serão blindados? Para com isso! Faz isso não!

Fico a imaginar dia de treinamento. Gente, esses clubes treinam muitas vezes no carecão, aqueles campos onde a grama não aparece nem para dar bom dia. Isso é fato. E a locomoção dos atletas para chegar nesses locais de treinamento? Ah, a alimentação ... mas nem tudo está errado, ao menos já anunciaram que não vai ter banho depois dos jogos. Novidade? Quantas vezes isso ocorreu? Não por precaução, é por falta d`água e estrutura mesmo.

Vamos imaginar aqui, uma partida entre Nova Cidade e Campos, lá na Baixada, ou até mesmo Goytacaz e Olaria, em Campos ... esses atletas estarão prontos, avaliados, preparados clinicamente em que momento para entrar em campo? Qual a logística que a Ferj, a mesma Ferj que todos conhecem dará a esses clubes? E esses clubes que vivem com o pires na mão terão qual tipo de estrutura a oferecer aos atletas, membros da comissão técnica e outros envolvidos nas partidas?

Mesmo sem público terão que contar, por exemplo, com segurança, segurança pública, médicos, ambulância e outros mais ... por baixo 120 profissionais por jogo. Seriam em torno de 40 por time, entre atletas, comissão técnica, somando os dois clubes, totalizam 80. Mais a arbitragem e no Rio são vários além do trio, tem delegado, vigia do árbitro, vigia do vigia,

Árbitro do vigia, árbitro do árbitro. Vamos imaginar aqui mais uns 10 profissionais, e chegamos aos 90. Tem o pessoal da ou das ambulâncias, mais segurança e policiamento. Vai somando ... como e quando esse pessoal passará pelo teste?

Vamos além. Uma infelicidade e que é normal no futebol. Um atleta se contunde e assim é levado para qual unidade hospitalar? Em Campos, o levam para o Hospital Ferreira Machado, que está superlotado com pessoas ocupando os corredores e esperando vaga para cirurgias antes mesmo da pandemia? Tiram dessa forma a vez de quem está na fila?

Em dias de viagens? Levando em consideração que com as estradas liberadas, os atletas passam por uma série de exames antes de embarcar. E aquele que pode estar contaminado, mas ainda não apresentou sintomas?

Na melhor das hipóteses, para o futebol voltar mesmo em meados de agosto, quando se iniciariam os treinamentos? Início de julho? Em que condições?

Ora cara pálida, vamos ser mais sinceros. Sou tão apaixonado por futebol como os milhares de torcedores brasileiros, cariocas e em especial aqui do interior do estado, mas vamos ser mais realistas, mais pé no chão ... sem ilusão.

São mais de 22 mil mortes no país com mais de 335 mil casos confirmados, no Rio de Janeiro, passamos de 30 mil casos com a triste marca superior a 3.200 mortos ...

Falar em economia já está sendo tão complicado, mas falar em futebol? Vamos com calma, por favor. Vamos deixar as bolas guardadas e as chuteiras penduras, por enquanto.