Campos, que já foi o maior produtor de cana-de-açúcar do país, pode voltar a figurar na lista dos líderes brasileiros. Na safra 2023/2023, que teve início nos últimos dias, as duas usinas em funcionamento no município preveem moer 2,1 milhões de toneladas de cana – 20% a mais que na safra passada. Mas, num futuro não muito distante, este número pode ser consideravelmente maior.
- O grande desafio é a produção de matéria-prima, o que levou ao fechamento das usinas que existiam – observa Frederico de Menezes Veiga, ex-diretor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em Campos. Em sua opinião, com a expansão das áreas cultivadas e o uso de tecnologias, a produção de cana pode praticamente dobrar, chegando a 4 milhões de toneladas por ano.
Ainda é pouco, perto das 9 milhões de toneladas que as usinas da região chegaram a moer numa única safra na década de 1980. Contudo, é uma esperança e tanto para um setor que já chegou a ter 27 indústrias em funcionamento, mas que, nos últimos anos, viu muitos fornecedores abandonarem suas lavouras ou substituírem os canaviais por outras culturas. Com mais cana sendo colhida, o setor poderá gerar mais empregos e movimentar ainda mais a economia regional.
Os ventos sopram a favor. A busca por fontes alternativas ao petróleo é crescente em diversos países - principalmente na Europa, acentuada pela Guerra na Ucrânia. Com a elevação nos preços do barril de petróleo e a paridade que a Petrobras vem adotando aos preços internacionais, também se espera que haja uma maior demanda pelo consumo interno.
INCENTIVO À IRRIGAÇÃO
Vista como fundamental para a revitalização do setor sucroalcooleiro, a irrigação pode se tornar viável graças ao substitutivo do Projeto de Lei 1.400/2019, aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 6 de abril. De autoria do então deputado Wladimir Garotinho, atual prefeito de Campos, o PL altera de semiúmido seco para semiárido a classificação climática de 22 municípios do Norte e Noroeste Fluminense. Para entrar em vigor, o projeto depende ainda da aprovação no Senado e sanção presidencial. Com o reconhecimento da região como semiárido, será possível criar um fundo de desenvolvimento, com captação de recursos para irrigação.
- Embora represente uma saída de custo alto, a irrigação é a única saída viável para recuperar a produtividade da terra agrícola nos moldes praticados no interior paulista – pondera o economista Ranulfo Vidigal Ribeiro. Em sua avaliação, outros fatores pesarão na revitalização do setor, como a união de pequenas propriedades em torno de cooperativas, uso de tecnologia de ponta, tecnologia de solos, financiamento e assistência técnica.
USINAS INVESTEM NA PRODUÇÃO
Mais conectadas com a realidade econômica mundial, as usinas se movem para aumentar a produção e a produtividade. A Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro) planeja moer, neste ano, 1,1 milhão de toneladas de cana (10% a mais que em 2021), produzindo 65 milhões de litros de etanol e 300 mil sacos de açúcar. Durante a safra, a Coagro gera cerca de 3 mil empregos diretos e 2 mil indiretos. A empresa também se uniu à Usina Paraíso, em Tócos, investindo R$ 50 milhões na sua recuperação. Sob gestão da Coagro, a Usina Paraíso voltará a operar na safra de 2023. Todo seu canavial está sendo preparado para a colheita mecanizada, sem a necessidade da queima.
Na Usina Nova Canabrava, uma das estratégias é o aumento da produtividade. Nos 2.300 hectares de terras arrendadas, a empresa vem utilizando técnicas de correção do perfil do solo, com uso de calcário e gesso. Nas lavouras onde este trabalho foi feito, já foi possível aumentar de 55 para 75 toneladas a quantidade de cana colhida por hectare. Na safra 2022, a usina prevê uma moagem de 1 milhão de toneladas de cana (40% a mais que em 2021), com produção de 72 milhões de litros de etanol. Além do combustível, a Nova Canabrava gera 44 megawatts/hora de energia com a queima do bagaço da cana.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA PARA O ESTADO
De acordo com o economista Alcimar Carvalho, a revitalização do setor é possível e seria estrategicamente relevante para a economia do estado do Rio de Janeiro. “A região tem uma experiência histórica no cultivo e pesquisa com cana-de-açúcar. A falta de visão dos governantes e dos líderes do setor foi responsável pelo encolhimento dessa importante atividade ao longo do tempo. Por outro lado, estamos falando de uma energia alternativa muito menos poluente que o petróleo e que só contribuiria para a matriz energética do país”.
Para o economista, no entanto, essa revitalização exige um alto padrão de conhecimento científico na construção de um novo formato de organização produtiva, que passa por um melhor planejamento do plantio, com a inserção de tecnologias – inclusive social – que possam contribuir na ampliação da capacidade de cooperação e reciprocidade dos atores produtivos.
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